Desporto

Setúbal Triathlon 2018

Relatos dos Associados António Moriés, Nuno Nobre, Filipe Horta e Pedro Fernandes

1,9 km Natação + 90 km Bicicleta + 21 km Corrida (8 de abril)

Relato de António Moriés

Esta prova, tal como outras com a mesma distância, começa alguns meses antes, com a elaboração de um plano, que pressupõe um regime de treinos regular. No meu caso, como foi irregular, o plano foi mais uma orientação, que serviu para ter as minhas referências para treino.

Às 7h30 da manhã já tinha a bicicleta pronta, com as águas e com os géis, e vesti o fato de neoprene. A 10 minutos do início da prova lá fui para dentro de água e deixei de tremer, o que era sinal de que a água estava mais quente do que o ar. Muito bom.

Primeira surpresa: Mas eu entretanto já estava com mazelas do frio; quando começou o segmento de natação verifiquei que não conseguia juntar os dedos da mão direita para fazer de remo. Após alguma dificuldade inicial por causa da quantidade de gente e como estava a respirar mal, decidi ir de costas até à primeira boia (400m) e quando lá cheguei já estava com a respiração e batimentos cardíacos estáveis e comecei então a nadar crawl. Mais 150m até à segunda boia e voltei para a direita, para fazer 800m contra a corrente (que estava fraca, felizmente).

Segunda surpresa: Foi quando me apercebi que também não conseguia juntar os dedos da mão esquerda. E agora? Pensei eu. Mas só havia uma solução, que era ir até ao fim. Isto de desistir não é para mim. E assim foi. Ao fim de 50 minutos, cheguei a terra.

Terceira surpresa: Não conseguia abrir o velcro da touca de neoprene, mas após algumas tentativas, ora com a mão direita, ora com a mão esquerda, lá consegui, antes de pedir ajuda a alguém (já estava a ficar desesperado).

Quarta surpresa: Agarrei nas meias para as calçar, mas os dedos das mãos não faziam os movimentos necessários. As meias foram logo parar ao saco do parque de transição. De seguida coloquei o capacete e os óculos, dei um nó no saco e ia calçar as luvas, por causa do frio, e foi nessa altura que tive a...

Quinta surpresa: Não me era possível calçar as luvas; lá foram as luvas para o saco, no qual já tinha dado um nó e não consegui desatar o nó, pelo que tive que enfiar as luvas por um cantinho e lá fui eu com a bicicleta para o segundo segmento, no qual não costuma haver nada de especial.

Algumas curiosidades: Numa prova com estas distâncias muita coisa pode acontecer. Temos que estar psicologicamente preparados para tudo. Se conseguirmos resolver os percalços, tudo bem, mas se não conseguirmos e não conseguirmos acabar a prova, temos que ser fortes e voltar no ano seguinte. Passamos à frente. A nossa parte é treinar e preparar-nos para as várias hipóteses, mas nunca é garantido que acabamos. Como saí muito tarde da água, esforcei-me demais na bicicleta e como estava a respirar mal por entupimento nasal, quando cheguei à segunda ida à Arrábida, perdi muitos lugares que já tinha ganho. Só no regresso desse último troço é que voltei a recuperar mais alguns lugares.

Outra curiosidade: O retorno na Arrábida faz-se no fim de uma grande descida, mas é já a subir, ainda a aproveitar a embalagem da descida, e quando comecei a travar, a 25 metros do ponto de retorno, ia a 61 km/h.
Eu diria que a vista que se tem no troço entre Setúbal e o Portinho da Arrábida é espetacular, mas em prova, bastava-me ir à Arrábida uma vez.

Terceiro segmento - Corrida 21 km (meia maratona): O esforço por ganhar lugares no segmento de bicicleta custou-me caro muscularmente e tinha que parar de correr e andar sempre que queria comer ou beber, pois não conseguia respirar, comer e correr ao mesmo tempo. Fora esses momentos fui sempre em passada de corrida tranquila, pois os músculos não permitiam mais do que isso. Nos últimos 5 km enchi-me de coragem e acelerei até à meta. Resta dizer que estas provas são provas de superação pessoal. Não é muito importante a classificação. Ainda assim, não resisto a informar a minha classificação: Tempo total: 6:58:21 geral; 445.º escalão V4; 14.º.

A minha opinião sobre a prova: Esteve bem à altura do exigido. Não me lembro de alguma coisa que tenha falhado. Muito bem organizada. A vista do lado da Arrábida é fabulosa, mas para mim, bastava uma ida e não duas idas. Não me consegui encontrar com todos em simultâneo antes da prova.

Próximos objetivos: Este ano vou sair da minha zona de conforto e vou andar a fazer subidas de bicicleta - Granfondo de São Mamede (160 km de bicicleta com altimetria de 2 km) em junho; e Triatlo do Douro, que "também é muito o meu género", graças à subida final de 12 km até Lamego em agosto.


Relato de Nuno Nobre

Tudo começou pelas 7h00 e com apenas 35` para os preparativos já foi tudo a correr; faltou desejar boa prova aos Triatletas do Clube e tirar a foto da praxe antes de iniciar a prova... depois, com o fato de neoprene, como somos todos iguais, não encontrei ninguém, mas durante toda a prova de ciclismo e corrida fui encontrando atletas do Clube que simpaticamente me foram cumprimentando e eu a eles.

Definitivamente, este ano, a minha condição física era bem diferente da do ano passado onde participei mais pelo desafio do que preocupado com tempos. Este ano, já com outra condição, as expectativas eram boas e assim foi.

Sabendo que na natação estava o meu ponto fraco lá me fiz ao mar com o objetivo de poupar as pernas para o que restava; 47', tempo fraquinho mas o possível. No ciclismo o objetivo era fazer a média de 30 km/h e com a preocupação de não exagerar nas subidas e recuperar nas descidas; assim foi chegado a T2 com 3h00 e média de 30 km/h fiz-me à corrida. Aqui percorri os primeiros quilómetros para ver qual a resposta do corpo e agradavelmente o corpo estava a responder bem até que ao km 5 e com um pace de 4:40, que era o planeado, eis que do nada... ou não, uma câimbra no gémeo direito me fez abrandar e claro os ritmos dispararam logo para os 5:00, terminando a corrida com um pace de 5:04 e um tempo de 1h46...

Confesso que não era isto o planeado mas o triatlo por vezes não é como queremos, é como podemos. Mesmo assim, objetivo alcançado com 5h40, uma vez que o meu melhor tempo era o do Triatlo de Vilamoura que no ano passado acabei em 6h12 com um furo na roda no ciclismo e dois furos nas pernas na corrida. Mas mais do que os tempos, foi a oportunidade de poder participar no triatlo mais bonito de Portugal e com uma organização do melhor.

O próximo Triatlo Longo será o do Douro, com o objetivo de ganhar cada vez mais experiência em longos e assim poder talvez para o próximo ano fazer um "longuíssimo" Ironman!


Relato de Filipe Horta

Há males que vêm por bem! Encaro as provas de Triatlo Longo como desafios de superação pessoal, para me "obrigar" a manter interruptamente a prática de exercício físico e sentir-me minimamente em forma.

O meu primeiro objetivo em todos os desafios que aceito fazer, independente do nível de dificuldade, é conseguir terminá-los com competência e sem grandes mazelas. O Setúbal Triathlon não fugiu à regra. O primeiro objetivo era chegar ao fim e o segundo, eventualmente, fazer melhor que em 2017, até pela razão de que este ano tive a oportunidade de treinar mais, incluindo no cenário da prova.

Quem tem alguma experiência, sabe que a adaptação à temperatura da água antes do início da prova é fundamental. Como tem estado muito fria, procurei e encontrei uma solução para enfrentar este problema: comprei na Decathlon uma touca de neopreno de 5mm. Comprei-a e pensei para mim mesmo: "isto é mel para usar na prova". Estava feliz com a minha aquisição. No entanto, houve um pequeno grande detalhe. É que nunca treinei com ela.

Deu-se a partida, tentei sair rápido como habitual e, ao fim de 50 metros, comecei a estranhar a minha forma de nadar. Cansei-me muito sem progredir ou encontrar um ritmo confortável. Percebi, então, que não estava a conseguir mergulhar a cabeça devidamente pelo efeito da flutuabilidade do neopreno. Com tanta experiência nas provas de triatlo e em competições de águas abertas, como é que cometi um erro destes?! "Ganda Burro", pensei logo eu. Foi um suplício até chegar à Praia de Albarquel, a nadar meio a bruços meio a crawl. Aprendi mais uma lição: nada de testar novas soluções em cima da prova!

A seguir de uma transição fraca, entrei para o segmento do ciclismo. E não é que surge uma nova experiência! Em quase mil quilómetros feitos em triatlos, nunca tinha tido um único furo. Talvez por isso, e para compensar, furei duas vezes no mesmo troço e na mesma roda, a de trás. No primeiro substituí a câmara de ar. Tudo estava resolvido, um novo alento tinha chegado, mas logo ao final de 1.500 metros o pneu voltou a vazar porque a câmara substituída estava a perder ar pelo pipo. Nesse momento desesperei, confesso - não tinha mais câmaras! E, pela primeira vez, pensei em desistir.

Com os minutos a passar e cada vez menos ciclistas para trás, não tinha grandes chances de voltar à prova. Entretanto, eis que surge, um amigo estreante (Obrigado Orlando Teixeira, safaste-me!) e que, por precaução, vinha carregado de material para a bike, dispensando-me uma das várias câmaras que trazia. Toca a substituir de novo a câmara e descer o resto da serra até Setúbal, com um andamento muito calmo devido à pouca confiança que sentia na bike. Segui até ao apoio mecânico mais próximo que se situava no abastecimento do troço seguinte, o terceiro, a caminho da Mitrena. Aí acertei a pressão dos pneus e o aperto da roda. Regressei à estrada com a certeza que estava entre os últimos atletas, na sombra da "mota vassoura". O resto do percurso de bike, a fugir dos últimos, foi feito muito sozinho com a estrada vazia a subir e a descer a Arrábida, a procurar ânimo e força de vontade para aguentar e não desistir. Só me vinha à cabeça que já tinha feito vários triatlos pelo que não tinha que provar mais nada. Mas, ao mesmo tempo, pensava que estava ali para chegar ao fim, nem que fosse o último. O que começo, termino! Senti na pele e aprendi que andar em provas com poucos atletas atrás é desesperante.

Quando cheguei ao segmento da corrida, reencontrei-me com a civilização, mas por pouco tempo. A maioria dos triatletas já estavam nas últimas voltas do percurso e logo a seguir voltava a estar sozinho. Depois foi a "bater sapato" até ao fim, com a velocidade do vento a aumentar e a chuva a ameaçar.

Terminei a segunda edição do Setúbal Triathlon com uma carga de água na cabeça, mas com a excelente sensação de missão cumprida e satisfeito comigo próprio pela perseverança que provei ter, levando-me a conseguir o objetivo base a que me tinha proposto: terminar com competência e sem mazelas! Acabou por ser o meu pior resultado, mas a maior prova de superação de sempre.


Relato de Pedro Fernandes

É sempre um grande desafio! Foi a minha 5.ª participação na distância de half iron man (113 km), sendo que eu e uma boa parte dos 11 bravos do Clube Millennium bcp, que foram a esta prova, somos totalistas das duas edições do Triatlo Longo de Setúbal.

Quando recolhi o kit de participação no dia anterior à prova, entregaram-me um papel com o meu tempo do ano passado que foi de 5:21 e a mensagem era, supera-te a ti próprio. Tinha alguma convicção de que isso era possível, pois por detrás da minha preparação tenho já muitas horas de treino acumuladas e um histórico que começou no dia 27 de setembro de 2015 no Triatlo Olímpico de Cascais (ou antes em maio de 2015, se considerar a estafeta de natação do triatlo de Lisboa). Há também muitos ensinamentos, dicas e partilha de experiências com os outros companheiros do Clube que fui absorvendo. Mas nem tudo correu bem.

Natação relativamente tranquila, em 31 minutos. Mas depois, caí na saída da T1 (transição da natação para a bike) devido a um erro de "amadorismo"! Logo aqui, o ensinamento que retiro é o de verificar sempre se os encaixes dos sapatos estão 100% funcionais (aliás, levar sempre material devidamente testado sem que tenham havido alterações desde a última vez que foi testado)... no meu caso levava capas de proteção do frio que coloquei à última hora nos sapatos e estavam a obstruir ligeiramente o encaixe... com a humidade (bicicleta molhada da chuva durante a noite), o chão de empedrado irregular com alguma areia, um gel que optei (mal!) por levar na mão a atrapalhar e a preocupação de clicar no relógio... tudo junto deu asneira e "catrapum"! Mas não desarmei, lá consegui encaixar e continuei com o guiador ligeiramente torto, as mãos raspadas e uma dor nas costelas... só que uns metros à frente o relógio Garmin (que serve para saber a quantas ando) saltou do encaixe; saí novamente da bicicleta para o apanhar e retomei o percurso... felizmente um pouco mais à frente apareceu um companheiro de treino do Clube, o Luís Faria, que percebeu logo que eu tinha caído e me foi perguntando se estava tudo bem... a minha dúvida era se, com aquela dor na grelha costal, ia conseguir correr, mas entretanto fui-me recompondo, sobretudo a nível psicológico.

A presença do Luís Faria deu-me alento e como temos um nível semelhante no segmento de ciclismo, fomos servindo de referência um ao outro, salvaguardando as distâncias que ditam as regras (nestas provas não é permitido aproveitar o efeito vácuo criado pelos outros ciclistas, ou como se costuma dizer, "andar na roda" - existem motas com monitores da organização que vão minimamente controlando estas regras)!

Cheguei à corrida e desfiz a minha dúvida: conseguia correr e acabei por fazê-lo como nunca tinha conseguido nesta distância de half iron man (foi mesmo a parte melhor!), fiz a meia maratona em 1h:43m e com isso tirei 8 minutos ao meu RP na distância total perfazendo 5h:13m.

Esta modalidade por si só dá-me um gozo tremendo, mas há sempre um objetivo que catapulta a minha motivação. E o meu objetivo é precisamente superar-me a mim próprio, competir comigo próprio, nem que seja num só segmento e nem sempre se traduz em tempo! Já tinha sido assim ao concluir pela primeira vez a distância, ou noutra prova quando saí entre os primeiros no segmento de natação, ou noutra ocasião quando superei o meu tempo na bike, mas desta vez a minha grande vitória pessoal foi na corrida que foi estável e a bom ritmo do princípio ao fim!

Neste caso, no cômputo geral da prova, superei não só meu melhor tempo, como também as adversidades provocadas pela queda! E é possível fazer mais e melhor! Mas mesmo quando isso não acontece (e não vai acontecer muitas vezes até porque a fasquia vai ficando cada vez mais difícil de ultrapassar e a idade também avança...), há sempre mais qualquer coisa que aprendemos e mais uma aventura vivida!

Uma palavra final para a organização desta prova que merece destaque, HMS Sports, simplesmente 5 estrelas. No ano passado já tinha sido muito boa e tudo o que havia para melhorar para este ano, melhoraram!

Publicado em 16/04/2018