Cultura

Cemitério dos Prazeres em Lisboa

Quando se fala em cemitérios, associamos a estes uma imagem de tristeza, porque temos alguém que partiu deste mundo e que nos era querido...

Mas há cemitérios em que existe um outro lado, a arte, e não tanto a dor. O dos Prazeres é, em Lisboa, o maior exemplo. Ali, quando percorremos aquele espaço, mais parece que estamos numa cidade em miniatura, tal a maneira como as ruas estão desenhadas, e a arquitetura foi utilizada, na edificação dos milhares de jazigos, que podemos olhar.

No âmbito das visitas guiadas, um grupo de sócios deslocou-se neste sábado, dia 26, até à Praça São João Bosco, onde, à entrada do cemitério, fomos acolhidos por um numeroso grupo de gatos, que eram os únicos seres vivos ali presentes, para além dos vigilantes do espaço. Para quem acreditasse na reencarnação, noutras espécies, diríamos que seriam "almas penadas" à nossa espera. Mas quem nos acolheu não foram almas do outro mundo mas o André, nosso guia, já doutras ocasiões, e noutros sítios.

Naquele local, uma espécie de condomínio fechado dedicado à morte, muitos dos jazigos são cuidados pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (uns quatrocentos) pois foram-lhes deixados em testamento por aqueles que, antes da morte, ali mandaram edificar a sua última morada. Não fora esse cuidado, da Santa Casa, e muitos estariam hoje em completo abandono, porquanto as gerações foram passando e pouco ou nada resta da ligação familiar dos seus herdeiros, pois não tiveram filhos.

Mas estão ali sepultados alguns dos maiores vultos da nossa história, e das nossas estórias. Como são Columbano, Leite de Vasconcelos, Jaime Cortesão e o Monteiro dos Milhões. Os jazigos, uns repletos de símbolos, alusivos à força da vida e ao final da mesma, outros onde foi recriada quase que a casa onde viviam os seus ocupantes. Como foi aquela que vimos em que existia a recriação do quintal junto a uma mini casa de habitação, sendo, esta casa, o jazigo da família.

E duas horas e meia depois do início da visita, já com as portas fechadas, deixámos o cemitério e despedimo-nos do André, convictos que ficámos mais ricos culturalmente com as explicações que ele nos deu. Ninguém saiu dali assustado. O único susto que tivemos não foi por vermos as portas encerradas mas sim porque uma escuridão aproximava-se a ameaçar-nos com uma enorme chuvada.

Publicado em 28/11/2016