Desporto

Clube Millennium bcp participou na Meia Maratona do Porto 2022

Relato do Associado Rui Felgueiras

Se se quiserem rir, podem continuar a ler... claro. Para rir, precisam perceber o lado mais interior de um praticante de atletismo.

Este ano de 2022 arrancou, para mim, com alguma preguiça. Com alguns factos pessoais que me condicionaram a mente. A mente arranja desculpas para não ir correr que são diabólicas... hum, nem vou entrar em pormenores, aqui não, permitam-me... é o espaço privado de um corredor, que só é público porque gosta de correr no exterior.

O treino para a meia maratona foi à bruta em agosto, aproveitando as férias, metendo carga e quilómetros, treinando claramente demasiado, mas naquela ânsia de que eu tenho que conseguir chegar lá sem sofrer... sim sofrer! Se fui fazer a Meia Maratona de Aveiro em abril, aprendi que quem não se prepara para uma meia maratona, percorre os últimos quilómetros a penar. Ora, agosto foi treinar no calor, foi meter carga e de quando em quando fazer uns quilómetros mais rápidos para lembrar a velocidade aos mais variados músculos e até à cabeça do Rui...

Setembro arrancou ainda com uma boa regularidade de treinos, mas na verdade consegui fazer tudo mal. Foi perder essa regularidade e substituir corridas por festas de aniversários e uns "opá, treinas amanhã", mas o amanhã não chegava e agora estás aqui, estás na prova, certo?

Era sábado, e depois de uma semana de pouco treino fiz uma caminhada de 10 km, hidratei-me o dia todo e deitei-me cedinho. Estava tudo a correr bem (menos a falta de treino) e só faltava o alarme acordar-me a meio da noite, não era? Não há como saltar da cama com o alarme a tocar... claro. Se em noite pré-prova os carneiros são necessários, com o alarme eu espantei os carneiros todos e passei a noite a dormitar.

Levantar cedo, tomar o pequeno-almoço, deixar o corpo acordar e ir apanhar o Álvaro Pinto, o Henrique e a Inês Bernardo, a lisboeta que resolvemos acudir em modo TVDE - era um Renault 4L e até os ocupantes eram, fora a menina, clássicos de respeito. Estacionar, fazer 400 metros de descida, em caminhada, a caminho do local de arranque e aquecer uns 50 metros, pois era só ver desde logo a nossa vontade de correr. Fomos ainda tirar umas fotos juntos com a equipa "All About", uma família da corrida que eu não dispenso, e depois foi entrar para as boxes das letras carregados de milhares de pessoas que nos rodeavam.

Esta prova, para mim, é linda: muita gente com experiências diferentes, com ambições diferentes e focos totalmente distintos e formas de estar. Este ano, e contrariamente ao passado, arrancámos da zona das palmeiras (Jardim do Cálem), fomos em direção ao Castelo do Queijo, e aquilo que absorvi de um arranque lento foi o entusiasmo e ao mesmo tempo o silêncio daquela avenida... que fresquinho ainda estava. Aquela avenida é larga e dava para finalmente colocarmos algum ritmo, ultrapassarmos pessoas sem colocarmos ninguém em risco, e quando damos por ela, já vêm as "sirenes" dos primeiros a dizer, "estás tão lento, está tão lento", mas eu, nos meus pensamentos, respondo, "estou no meu melhor, vamos a eles".

Haverá corridas bonitas, mas esta é muito bonita, com a paisagem fantástica entre o mar e o rio, umas 8.000 pessoas diferentes enchem de cor as ruas, há sempre muitos sonhos que conseguimos perceber nas caras das pessoas, no olhar sério ou sorridente que fazem transbordar pensamentos. Chegar perto do Freixo, virar e percorrer quilómetros de gente no sentido inverso, faz-nos sentir voar sobre o alcatrão. De quando em quando, um grito do passeio, "Rui, força", fazia-me inchar os pulmões de orgulho e força. Ora aí vamos nós, tenho que contrariar este peso na mente e nas pernas, mas o Rio Douro mantinha o seu ar sereno, desafiando o ser Rui a continuar.

Estratégia desenhada por mim: chegar cedo, encontrar o grupo "All About", arrancar a 4:45, fazer 10 km e avaliar... e se desse para aumentar o ritmo para os 4:30? Mas terá sido assim? Nah, arranquei bem mais rápido, sempre a ultrapassar pessoas, na esperança de ver uma cara conhecida que me fizesse poder, quiçá, abrandar. Poderia sim ter sido um momento terno, mas não foi. O ritmo mantive-o, até porque tive 2 "rebocadores" que me obrigaram a seguir.

O António, o Marco e os "All About" fizeram-me percorrer os últimos 10 km de uma forma mais leve. "Tu consegues, esquece a cabeça", era o mote que eu mais ouvi, mas o meu cérebro estava, e sim, errei de propósito a palavra, a dizer-me bem alto, "Rui, estás cansado, está um calor medonho, não treinaste para isso, por isso abranda". E abrandei, fui abrandando, mas foi mais uma prova terminada com um sorriso interior de superação. Corrida é atitude, é conhecimento interior e capacidade de nos adaptarmos a tudo aquilo que somos naquele momento... a mais uma Meia do Porto.

Nesta prova, relativamente aos corações Clube Millennium bcp que vi e privei: obrigado Álvaro Pinto (o meu eterno Amigo), Inês Bernardo, Firmino Nogueira e Pedro Franco, que nos seus 64 anos, para mim, foi uma inspiração de que podemos continuar nestas andanças.

Obrigado a todos. Até uma próxima prova... quem sabe.

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Publicado em 20/09/2022