Desporto

Aventura em BTT do Porto a Santiago de Compostela

"Só quem faz o caminho vai conhecer todas as sensações que ficaram por dizer"

Em completa autonomia, os Associados Eusébio Carvalho, Pedro Matias e Sérgio Moura juntaram-se a mais dois amigos e percorrerem em BTT os caminhos de Santiago de Compostela desde a cidade do Porto.

Relato desta aventura por Pedro Matias

Esta nossa peregrinação a Santiago de Compostela começou a tornar forma no início do ano, com a definição da data de partida e duração da mesma. Tal como em 2017, iríamos partir do Porto, em autonomia, pelo Caminho Central Português. A diferença estava na duração, passando de 3 para 4 dias.

E assim, no dia 31 de maio de manhãzinha, encontrámo-nos na Estação do Oriente (Eusébio Carvalho, Sérgio Moura, Pedro Matias e os amigos João e Helder) para apanhar o Intercidades das 6h39 rumo ao Porto. Aqui chegados, rumámos à Sé para carimbar as credenciais e começarmos oficialmente o caminho. Primeira paragem para carimbo após partida na sucursal do Millennium bcp da Praça dos Leões.

Os primeiros quilómetros, após o Porto, são em estrada nacional e relativamente rápidos, mas preferimos as estradas secundárias e caminhos logo a seguir, sem a pressão do trânsito, onde podíamos circular mais à vontade e apreciar a paisagem. Paisagem essa que ficou muito húmida, com a chuvada que caiu desde a hora de almoço e até meio da tarde. O dia terminou ao fim de 91 km em Ponte de Lima, onde pernoitámos na Pousada da Juventude.

No dia 1 de junho tínhamos a travessia da Serra da Labruja. A chuva não marcava presença, o que deu outro alento para trepar a serra. E durante algum tempo foi mesmo "trepar", devido ao acidentado do terreno (inclinação, pedras, rochas e raízes), a que acrescia o peso adicional da bagagem nas bicicletas e/ou às costas. É nesta parte do percurso que somos valentemente ultrapassados pelos peregrinos a pé.

Mas uma vez lá em cima, é hora de descansar um pouco e apreciar a paisagem, e aproveitar a descida até Rubiães para um almoço retemperador das forças. A chuva apareceu logo a seguir para ajudar a arrefecer, tendo este dia terminado em Valença ao fim de 38 km. Como chegámos cedo e tínhamos reservado um alojamento local, tivemos a "liberdade" de ir às compras e fazer o jantar. Em 2017, esta etapa só terminou em Pontevedra, onde chegámos muito tarde (depois das 22h), pelo que decidimos este ano dividir este dia em dois.

No dia 2 de junho despedimo-nos de Portugal e... "hola Espanã".

Mais uma manhã chuvosa, mais uma serra, mais umas centenas de metros a empurrar a bicicleta e mais uma descida vertiginosa até Redondela, onde parámos para almoçar, já com a companhia do sol. À saída de Redondela, e para ajudar a digestão, falhámos um marco do caminho e subimos 1 km a mais naquela serra. Notem que a partir de Espanha o caminho está muito bem marcado, tendo o erro sido nosso.

Chegámos a Pontevedra ao final da tarde, após mais 60 km. Desta vez não tínhamos estadia marcada, mas conseguimos ficar no mesmo albergue particular de 2017.

O dia 3 de junho acordou solarengo, para este que seria o último dia desta aventura.

À saída de Pontevedra cruzámo-nos com muitos peregrinos a pé e o caminho progrediu bem até chegarmos a Padrón, onde almoçámos. Aqui é que as coisas começaram a complicar:

. Em conversa com a simpática moça do restaurante, fomos informados que era semana de celebrações em Santiago, pelo que se não tínhamos estadia reservada (e não tínhamos...), dificilmente a conseguiríamos. Após vários contactos, inclusive da simpática moça do restaurante que tinha lá amigos de albergues, confirmou-se o pior. Não havia vagas. O Eusébio recordou-se que havia um albergue oficial em Teo, 15 km antes de Santiago, e que por ser já muito perto do destino dos peregrinos, deveria ter vagas. E assim fomos;

. Segunda complicação: após o almoço, começa a chover (outra vez!). Paragem para vestir os impermeáveis (mais corta-vento que impermeáveis) e a chuva a engrossar. Depois vem a trovoada e relâmpagos. Paragem estratégica num viaduto debaixo da estrada nacional, onde já se encontravam outros peregrinos e onde se juntaram outros a seguir. Depois de largos minutos à espera que o temporal se afastasse, lá voltámos à chuva e ao caminho.

Chegados ao albergue de Teo, confirmou-se que estava praticamente vazio. Altura de banho para aquecer, vestir roupa seca e aproveitar para lavar e secar a roupa molhada e enlameada. Foram 55 km onde apanhámos as 4 estações. Jantámos num café/restaurante nas redondezas (o único...) e na companhia dos outros peregrinos do albergue: uma peregrina italiana e duas peregrinas portuguesas do Porto.

No dia 4 de junho arrancámos para os 15 km finais, com a perfeita noção que Santiago era "já ali". Passámos pelas "nossas" peregrinas que tinham saído mais cedo do albergue e efetuámos uma paragem técnica para um pequeno-almoço alargado e merecido.

Já se avistava a catedral ao longe e o desejo de chegar acelerava. Aqueles últimos quilómetros nunca mais passavam. Entrámos nas ruas adjacentes à catedral e sentimos que chegámos. A chegada ao largo frente à catedral é uma festa, o sentimento de dever cumprido, o fim de uma espetacular aventura. Tempo ainda para as fotografias da praxe e ir buscar a Compostela uns "recuerdos" - para nós e para quem ficou em casa e nos autorizou esta escapadela.

Logo a seguir, ainda antes do almoço, encontro marcado com o nosso motorista José Ravasco, que se tinha levantado de madrugada para nos ir buscar com a carrinha do Clube.

O que não foi ainda referido:

. Esta é uma aventura que fizemos pela segunda vez (estreia para o João e Helder), e sempre com um grande gosto e vontade;
. O facto de irmos em autonomia, com bagagem "às costas", acrescenta alguma dificuldade ao caminho, e também alguma incerteza, tendo de racionar o que levamos e resolver problemas que possam surgir;
. Já que falamos de problemas... apenas um problema com os travões de uma bicicleta. Furos... nem um;
. Só tínhamos estadia reservada para as primeiras duas noites. A partir daí, era a aventura;
. Tirando a zona metropolitana do Porto, a paisagem é espetacular, assim como os caminhos. É por (muitas) vezes um sobe e desce constante. Muitos pontos de interesse para parar, apreciar e fotografar;
. À medida que vamos avançando no caminho, encontramos cada vez mais peregrinos, com cumprimentos constantes.

Não foi tudo dito. O texto ficaria muito extenso. Só quem faz o caminho vai conhecer todas as sensações que ficaram por dizer.

Aceda aqui à notícia na versão em PDF.

Publicado em 28/07/2022