Desporto

"Portugal 281+ Ultramarathon": de Belmonte a Proença-a-Nova

Relato do Associado Helder Baptista

A ideia de participar na Portugal 281 Ultramarathon, realizado de 22 a 25 de julho, começou a germinar entre o Miguel Cruz, o Pedro Raposo, o Pedro Neves e eu, há quase um ano, pouco depois foi partilhada com o Eduardo Rodrigues e o Paulo Rato, que desde o primeiro momento queríamos que fosse a nossa assistência.

A primeira coisa que me cativou foram as excelentes reportagens fotográficas e a vontade de também querer estar naqueles cenários. Mas nós queríamos saber mais e o portal da prova ainda não tinha notícias para a prova deste ano. As candidaturas à prova foram aceites no início deste ano, as inscrições feitas e a partir desse momento já não havia voltar a dar... íamos participar na PT!

A Preparação

E logo ali começámos a identificar as dificuldades, para uma a uma poderem ser resolvidas. A autonomia dos equipamentos eletrónicos, que tipo de equipamento usar na prova, mochilas, ténis, etc, quando e quanto descansar e... a assistência, sim, porque sendo atletas da casa não íamos prescindir de assistência durante a prova. Decidimos que nos iríamos rodear do melhor e mais positivo que havia e conhecíamos, para que a nossa participação pudesse ser como todas as outras, uma verdadeira alegria e uma permanente festa, e no final pudesse ter sucesso.

Os treinos começaram logo de seguida pois sabíamos que tínhamos de treinar, treinar muito, mas o muito era quanto? O Eduardo Rodrigues e o Paulo Rato foram-nos acompanhando nos treinos e nas provas de preparação. Ao Manel Rodrigues foi pedido para elaborar um plano de treinos. Os treinos foram feitos, mas sempre com a dúvida se eram os suficientes.

O equipamento... foram experimentados/comprados vários ténis, foram levados vários pares que fomos trocando ao longo da prova. Várias mudas de roupa, também para trocar no decurso da prova, "powerbank", cabos de alimentação, colchão para descansar, geleira com os "nossos" sólidos (frutos secos e outros mimos) e líquidos (bebidas isotónicas, Coca-Cola, água com gás, Red Bull e água, muita água).

A assistência! Parte integrante e fundamental da nossa equipa, teria de ser desempenhada por quem nos conhecesse bem, que estivesse familiarizado com as ultras e tudo o que isso implica e fosse perfeitamente desenrascado. Está feito o retrato do Paulo Rato! Resumindo, tínhamos uma assistência de luxo, de "fábrica", que nem os atletas de topo tinham!

A Prova

Partida no final de 21 de julho para Abrantes (para não fazer o caminho todo no mesmo dia e cansar os atletas) e partida para a Sertã na quinta-feira de manhã (22 de julho, dia da prova). Feita a acreditação na Sertã, importava rumar a Belmonte para a partida às 18 horas. Já em Belmonte e depois de bem almoçados e de tudo preparar para a partida, aí estávamos nós junto de atletas (que a mim me pareciam) enormes, dado o seu palmarés nesta e noutras provas por todo o mundo. Confesso que me senti pequeno, muito pequeno, perante atletas que já tinham tentado fazer ou mesmo feito esta prova. Eles eram muito grandes!

17h30, entrada no Castelo de Belmonte, olhamos à volta e é só atletas de várias países e todos eles enormes no seu historial! 18h00, partida para um carrocel de emoções que só terminou às 09h30 de domingo (63h20 depois), com 45´ dormidos na sexta e 50´ dormidos no sábado, sem que se tenha dado pelo tempo passar. Não vou descrever etapa a etapa, porque seria cansativo... foram-no sequencialmente e de enorme beleza todos os locais por onde passámos, somente deixo aqui alguns apontamentos e o quadro em anexo com o desempenho dos atletas do Clube Millennium bcp (as três colunas por baixo da localidade são, por esta ordem, tempo a fazer o percurso/classificação geral/hora do dia), que são ilustrativos da nossa corrida.

Registámos os factos de termos sempre progredido juntos (que outra forma havia para o fazer?), só isso permitiu cada um de nós ter chegado onde chegou; o Pedro Neves deixou-nos em Penamacor com 80k e o Miguel Cruz em Idanha-a-Nova com 154k, ambos devido a problemas físicos, inultrapassáveis; a prova somente tem oito bases de vida, o que faz com que três etapas tenham acima dos 40k; com toda a logística que isso implica, chegámos a sair para a etapa seguinte com 5lk de água; de termos rebocado a famosa e experiente Sílvia Amodio logo na etapa mais longa e difícil do percurso Idanha-a-Nova > Lentiscais 42k (Vale da Morte), porque estava sem GPS; o pior adversário que tivemos foi o sono e a privação de dormir, para tentar progredir; na noite de sábado para domingo as alucinações foram frequentes; a fatura de gelados ter sido maior que a da água, e nós bebemos muita água; nas bases de vida, pese embora nunca tenha faltado nada, apoio médico inclusive, por vezes as condições para dormir não eram as melhores; a "nossa" assistência ter sempre preparada, à chegada a cada base de vida (para cada atleta), a cadeira, a "box" pessoal com tudo o que era para trocar e o colchão para descansar; e o facto do percurso se ter desenrolado entre estradões de terra batida e estadas municipais.

Posto tudo isto, sempre com excelente suporte da nossa assistência (após Penamacor - 80k passámos a contar também com a colaboração do Pedro Neves, que nunca nos abandonou e conseguiu transferir para nós toda a energia que não gastou em prova), a nossa boa disposição, a constante omnipresença da organização ao longo de todo o percurso, perguntando se era precisa algo (várias vezes do nada surgia um carro com águas e Coca-Cola frescas), a ausência de qualquer queixa física ou mazelas, fomos fazendo a prova, tendo percorrido a última etapa (26k) a correr a 6´/km.

Encaminhámo-nos para o final da prova, para a meta, já com um sentimento de vazio por todo este carrocel de adrenalina estar a terminar. Na última etapa, a organização permitia o acompanhamento por uma pessoa e fomos brindados pela companhia do Rato (pensava que íamos fazer esta última etapa a passo, enganou-se e foi quando corremos mais depressa...). À chegada, o Pedro Neves e surpresa das surpresas, a presença das nossas famílias (a partida de Lisboa deu-se ainda de madrugada) e os olhos cheios de paisagens incríveis e rasos de água. Chegada às 09h30 de domingo e não tínhamos dado pelo tempo passar! 63h20, num piscar de olhos!

Agradecimentos

Como me ensinou uma vez o António Moriés "se pretendes fazer algum dia, algo de grande, primeiro convence quem tens em casa". Os primeiros agradecimentos vão para as nossas mulheres, que mais uma vez nos apoiaram em mais uma aventura, vendo-se privadas da nossa companhia.

Depois os agradecimentos vão para a outra parte da equipa, a Nossa Assistência - Paulo Rato e Pedro Neves -, que fizeram com que nos sentíssemos atletas de fábrica, tínhamos todos os cuidados possíveis e imaginários. Bastava pedir, que o desejo concretizava-se!

Ao Eduardo Rodrigues, que não podendo estar em permanência, também não conseguiu acompanhar à distância e veio dar apoio por 24 horas (como é que é possível tanta vontade?). Não sei se sem eles teríamos conseguido terminar a prova, mas tenho a certeza absoluta que teria sido muitíssimo mais difícil! A eles devemos o nosso sucesso.

Ao Clube Millennium bcp, seu Seccionista e respectiva Direção, que acreditaram em nós e tornaram a logística muito mais fácil. E por fim os agradecimentos vão para todos os amigos que foram acompanhando a prova online.

Assista aqui ao vídeo do evento, divulgado na Bola TV.

Publicado em 16/08/2021 (atualizado em 15/03/2022)