Relato de Rui Felgueiras
Pois, ontem (10 de setembro) foi mais um dia para ganhar experiência. 59 inscritos e 46 pessoas à partida. No dia anterior levantei o dorsal e remeti-me à leitura de um livro, mal eu sabia o que me esperava... na verdade desconfiava, seriam 30 km com um acumulado de 2.200 metros... só podia ser bom!
Lá nos juntámos no sítio da partida, a linda Praia Fluvial de Palheiros e Zorro; nome estranho, nem vi palheiros nem o dito Zorro, mas há que passar nas verificações de material obrigatório para ser dada a partida. O organizador avisou-nos logo: "bem, há poucas placas de perigo, mas as que virem estejam com cuidado e atentos"; e "bora lá" correr às 8 da manhã, siga.
Correr no monte, para mim, é um momento de contacto com a natureza, de fusão, em que há muitos sítios em que nada temos de contacto com a civilização. A variedade da paisagem, a variedade de solo, o constante sobe e desce moeram as pernas a quem se atirou à missão.
Arranque dado e parecíamos cabritos de monte. Aos 4 km já levávamos 500 metros de acumulado positivo, já tínhamos passado locais onde descer naquele mundo de calhaus soltos era um combinado de escorregar controlado, ski a passar a "sku" e surf sem prancha.
Aos 8 km, já levávamos 800 metros de acumulado positivo, passámos o Rio Mondego a vau, com água pela cintura, e claro, eu tive que parar depois da saída do rio para tirar uns quilos de areia das sapatilhas, que não só pesariam, mas também me iriam na certa provocar estragos. E sim, há que continuar a subir, em terrenos variados. Em determinado momento, uma árvore numa descida atravessou-se na frente e o meu ombro esquerdo "cumprimentou-a"... foi bom!
Ao km 21, já eu contava 1.600 metros de acumulado positivo. Ao km 24, algumas "peças" minhas estavam a chiar, uma cãibra no interior da coxa a querer ajudar-me a ser mais lento. Resolvida essa, entrou a perna esquerda... claro, para quê facilitar? Que se note que levei sal, levei gel bebível suficiente, que tomei magnésio na última semana, mas claro, devo ter-me esquecido de me preparar fisicamente.
Andei muitos quilómetros sozinho, passava pontualmente alguém, ou alguém me passava, mas o meu ritmo era o possível. Quando aos 30 km, tive que fazer ainda uma subida, aquilo já parecia tortura, mas há que cumprir e está a ponte à vista, e parece que terminar está mesmo ali, e vamos lá, um esforço final.
O trajeto face os incêndios e chuva teve acertos, iria ter 31.3 km, mas claro, eu estava tão folgado, que apesar da excelente marcação, quando me via numa descida ou reta, em bom piso, era logo a passar as fitas. Há que voltar para trás, claro. Acabei com 32 km. Fui 20.º da geral, 5.º de um escalão, que era dos 40 aos 100 anos.
Tirar a roupa foi um castigo, meus caros, um equilíbrio entre o que era baixar e os músculos a quererem prender, uma coisa linda na certa de se ver. Roupinha vestida, esperei ainda pelo Luís Mendes para tirar esta foto, a possível de dois participantes rijos.
Um abraço a todos os que me leem.
Publicado em 18/09/2023