Desporto

Setúbal Triathlon 2019

Relatos dos Associados João Gonçalves e Nuno Nobre

Decorreu no pretérito domingo, dia 14 de abril de 2019, mais uma edição do Triatlo Longo de Setúbal, evento segundo os participantes muito bem organizado e cuidado por equipa portuguesa. Aceitarem este desafio 12 Associados do Clube Millennium bcp que rumaram à aludida península.

Relato do João Gonçalves

DNF - Did not finish foi o que me aconteceu, pela primeira vez, em provas de triatlo. A desistência da prova deu-se logo após o início do segmento de bicicleta. Ainda não tinha concluído o 1.º km (dos 90 km totais) e decidi abandonar o evento.

Na minha opinião o segmento de bicicleta é o mais exigente dos 3 ao contrário do que se possa inicialmente pensar. Mais de 50% do tempo e da nossa energia gasto para completar um triatlo de longa distância é passado em cima do selim. Costuma dizer-se que é o segmento de natação que mais afasta os atletas de prosseguirem a modalidade de triatlo. Mas é porque quem o diz, e pensa, ainda não entendeu a complexidade do ciclismo. O segmento de ciclismo exige várias competências: Observação, Equilíbrio e Força de resistência.

Observação: dos movimentos dos restantes ciclistas, do percurso, do seu desnível, do estado de conservação da estrada, da complexidade técnica (por exemplo, curvas acentuadas em descidas, ruas estreitas), da humidade do piso, são características de um segmento de ciclismo numa prova de triatlo. E podem aparecer todas na mesma prova!

Equilíbrio: é o que nos permite comer sólidos/líquidos durante a prova sem ser obrigado a parar (no segmento de corrida é difícil sem ter que parar), é o que nos permite agarrar os abastecimentos em segurança, é o que nos permite desviar de obstáculos sem cair!

Força de resistência: é o que faz com que seja possível completar o segmento dentro do cut-off, que no final do segmento ainda tenhamos disponibilidade para fazer a corrida em condições competitivas. O que se passou comigo em Setúbal foi o falhanço das duas primeiras. Explico melhor. Desde a véspera da prova que se fazia sentir uma chuva "miudinha". É aquela chuva que não lava a estrada. Pelo contrário, realça as piores condições possíveis para os ciclistas: torna-a escorregadia! A agravar, o percurso tinha secções de paralelepípedos lisos!

Eu tinha identificado este risco na véspera. Pensei, é preciso cautela nestas secções. Amanhã tens que ter muita atenção a isto. Portanto, assumi que a competência Observação estava cumprida. E a competência Equilíbrio, pensava eu, também estaria cumprida. O Equilíbrio resulta da nossa maneira de ser, e melhora com a experiência. Tantos quilómetros feitos e tantas provas só podia beneficiar a minha competência.

Assim sendo, o que falhou?

Subestimei o risco do piso e sobrevalorizei a minha capacidade de equilíbrio. Quando saí do parque de transição decidi, como faço sempre, levar a nutrição na mão, para após o mounting line começar logo a comer. A natação e a baixa temperatura da água (14º/15º) tinha-me deixado sem energia, e como se antevia um segmento exigente, era necessário repor imediatamente os níveis de glicogénio. Não satisfeito ainda, havia que por o Garmin a contar!

Como todos sabemos, a saída do parque de transição é complexa: o corredor de saída é estreito, há muita gente a chamar, há ruído que desestabiliza o ciclista. Há um aumento da pulsação cardíaca sem termos exata noção disso. Há um ambiente que provoca um aumento da adrenalina. Sentimo-nos os melhores! E é isso que somos! Quem se atreve a fazer uma distância longa é um atleta dos melhores! E sendo assim, temos a absoluta certeza de que vai tudo correr bem!

Mas tudo correu mal. Primeiro, montei antes da linha do mounting line. Pouco antes é certo, mas fui chamado pelo árbitro. Tive que desmontar e corrigir. Fiquei furioso, sem razão. Arranquei determinado a fazer uma boa prova! Senti cumprida a terceira competência, Força de Resistência. Segui pelo corredor de saída, a olhar para o público. Há sempre pessoas a chamar! Pessoas conhecidas, família! Prestamos menos atenção ao corredor de saída. Ao meu lado vinha o Vítor Francisco. O Rogério Araújo alguns metros à frente. Tinha as mãos ocupadas, comida e Garmin. Muitos fatores de distração. Demasiados.

Primeira secção de paralelepípedos, aguentei-me. Pensei, este risco, que eu tinha identificado, estava ultrapassado. Ganhei confiança! Acelerei, não podia perder tempo! Entre a primeira seção de paralelepípedos e a segunda, aumentei a velocidade (para quem sabe, em algumas bikes de time trial as mudanças estão localizadas na extremidade dos extensores, portanto mais difícil manter o equilíbrio). Comecei a comer e tentei ajustei o Garmin! Tudo ao mesmo tempo!

Segunda seção de paralelepípedos. Caí no chão! Acho que era inevitável! A bike entrou mal na secção, derrapou, não consegui corrigir. Era impossível corrigir! Fui direto ao chão e arrastei-me pelo alcatrão fora. Lado direito do corpo queimado. Braço, costas, joelho e anca. Fiquei a olhar para o céu, com uma dor horrível, que não abrandava. Percebi imediatamente que não dava para continuar! Tanto treino para acabar assim! Desanimado! Pediram-me para me levantar. Não conseguia porque as dores eram muitas. Estava com um ardor horrível. Deixei-me ficar deitado no chão. Veio a ambulância, entrei lá para dentro, limparam-me a pele, desinfetaram... Perguntaram-me se queria ir ao hospital. Achei que não, não sentia nada partido. Mas não tinha condições para continuar a prova!

A organização foi simplesmente inexcedível. Foram ao parque de transição buscar os meus sacos de corrida e de final de prova. Como eu estava cheio de frio, uma das pessoas que me acompanhou despiu o seu casaco para eu vestir! Acompanharam-me ao meu carro. Falaram com a polícia para me permitir a saída da zona de prova. Ainda tinha de ir à meta buscar o saco de natação, que entretanto já estava em trânsito. Disse à polícia que precisava de ir à meta buscar o material de natação. A polícia já sabia quem eu era "já sei, foi o Sr. que caiu há pouco"... Quando lá cheguei o sangue escorria-me novamente para pernas e braços. Insistiram para que eu fosse outra vez visto. Voltei ao posto médico para segundo tratamento. Entregaram-me o saco de natação e finalmente fui para casa. Para o ano volto lá!

Relato do Nuno Nobre

14 de abril de 2019, no Triatlo de Setúbal, marca o virar de página para o meu grande objetivo de 2019 que é o Ironman Vitoria Gasteiz, em Espanha, a 14 de julho.

Com o início dos treinos em janeiro deste ano tinha como objetivo chegar ao Triatlo de Setúbal, já com uma boa condição física e ver como estava o corpo numa prova que tinha de tão exigente como maravilhosa. Foram 1.9k a nadar, 90k a pedalar e 21k a correr.

Tudo começou pelas 7:00AM. Altura de fazer os últimos preparativos para a partida de mais uma aventura marcada para as 8:00AM, com mais uma organização top da HMS. Estava uma neblina e uma humidade assinalável, estradas molhadas o que exigia cuidados redobrados na Bike, capacete check... Óculos check... Neopreno check... Fotos da praxe check.

A água estava fresquinha este ano e a partida foi em modo Rolling Start o que torna a natação mais fácil pois temos mais espaço para deslizar na água... ou não. Foram mais ou menos 1500 metros a nadar contra a corrente o que tornou a natação muito exigente para o corpo. Contava fazer abaixo dos 40´ mas naquele contexto fiz 42´. Não foi ótimo mas também não foi mau de todo e até consegui tirar 5´ ao tempo do ano passado o que na natação é muito bom.

Na primeira transição - T1 - optei por tirar o fato ainda na água o que achei vantajoso, pois com mais de 800 participantes e sendo eu o n.º 233 tinha muito que correr até a Bike e sem a preocupação do fato tudo foi mais fácil. Nesta fase procuro sempre hidratar-me, repor hidratos de carbono, com uma frutose e uma bebida rica em HC, opto por calçar logo os sapatos, ou seja, nos primeiros km da Bike, concentro-me  principalmente em adaptar o corpo, à nova modalidade - bike - libertando as mãos para o guiador. Com o piso molhado todo o cuidado era pouco e as passadeiras em paralelos ainda mais agravava a situação e eis que no fim da Av. Luísa Todi assisto à primeira queda precisamente por causa de uma passadeira - isso deixa ainda mais todos os meus sentidos em alerta máxima.

Vamos lá então focar-me na Bike com o objetivo de superar os 30 km/h de média final do ano, mas desta vez procurando uma boa gestão da transmissão, tenho 53/39 e 28/11, a opção foi utilizar 53 a rolar e nas descidas, mas estar atento ao vento e com vento de frente utilizar 39, nas subidas nada de loucuras e fazer sempre em 39. Não falhar na Alimentação e Hidratação. Tudo correu de feição, sinto que fiz um bom segmento pois cheguei bem à corrida e ainda tive direito a prémio pois acabei com média final de 32 km/h e um tempo de 2h:48m.

Chego à segunda transição - T2 - em "bom estado físico e mental" com vontade de enfrentar o Adamastor o que é bom sinal. Aqui não me importo de perder uns segundos extra. Uma vez mais procuro hidratar-me repondo HC com uma frutose e uma bebida rica em HC e Recuperador. Outra situação é ter sempre a opção de poder calçar outro par de meias caso o segmento da bike seja molhado. Mais uma boa opção, pois troquei de meias e que bem que soube.

De "peito cheio", fiz-me ao segmento de corrida [tenho treinado bastante as transições (Bricks)], e isso deixa-me mais confiante, treinado a cadência, e queria passar todo esse treino para a corrida. Comecei por fazer passada curta com boa cadência pois sabia que os músculos iriam agradecer mais tarde, 4:20/4:25/4:54.

As voltas iam passando e os ritmos mantendo-se em cada volta. Sentia um enorme apoio da minha mulher e do João Silva. Um grande obrigado aos dois pois naquele momento um apoio assim dá-nos asas, passava também por muitos colegas do Clube Millennium bcp sempre com uma palavra ou sinal de encorajamento que eu retribuía. No fim pace médio de 4:36 em 1h:35m. Satisfeito, mais uma vez, pois melhorei também na corrida em relação ao ano passado pois fiz em 1:44 com uma pace de 5:04.

No final prova concluída em 5:12:29 conseguindo tirar 28´ ao tempo do ano passado e acima de tudo mais uma aprendizagem em todos os aspetos para o meu grande objetivo de 2019. Confesso que tinha como desejo secreto fazer SUB5 superando o meu melhor tempo do Ironman Cascais com 5:05. Mas contente na mesma pois senti-me forte em todos os segmentos e o caminho faz-se caminhando e esse dia chegará... Agora só tenho de continuar a treinar forte que 14 de julho é já ali... Até já!

Publicado em 23/04/2019