Desporto

Bearman XTRI 2019

Quando achas que uma prova é muito dura, ela pode ficar ainda pior...

Vale a pena ler o relato do nosso atleta Manuel Rodrigues!

Para uma prova que já se previa muito dura, devido a ter mais de 6.000 metros de total de subida acumulada, entre a bicicleta e a corrida, acabou por ser ainda mais dura, já que o S. Pedro decidiu brindar os participantes com um temporal, à moda dos Pirinéus, durante grande parte da prova.

Esta prova de longa distância, classificada como um dos mais difíceis Iron Man que se realizam atualmente, teve como centro, a pequena vila termal Francesa - Amélie les Bains, localizada nos Pirinéus, bem próximo do Mediterrâneo. A organização, idealizou uma prova em plena autonomia, disponibilizando aos participantes apenas a localização dos muitos pontos de água existentes na região, com os atletas a terem que assegurar toda a logística ao nível da alimentação pessoal, para as mais de 12 horas de prova (para o primeiro).

Os percursos, todos em estradas de montanha, contaram com subida aos picos (col) mais emblemáticos da zona, com zonas de retorno do final dos cumes das montanhas e com o controlo da prova e da segurança dos atletas a ser assegurado através de um GPS disponibilizado para cada participante. Este sistema permitiu que os acompanhantes e mesmo quem estava a seguir de longe, vissem o desenrolar da prova através de um site na Internet. Este sistema, permite seguir a passo e passo a evolução dos atletas em prova e ainda para controlar eventuais atalhos.

A prova contou com cerca de 150 atletas, com representantes de 15 países, distribuídos pelas duas distâncias. Portugal esteve representado pelo Clube Millennium bcp, que marcou presença com 3 atletas, sendo 2 na distância XXL, Pedro Silva e Manuel Rodrigues, atletas há muitos anos habituados a grandes desafios, e um estreante na distância Half, Pedro Movilha Silva, que apesar dos seus 22 anos e de pouco treino não se amedrontou e se iniciou em distâncias (longas) para gente mais madura.

Atendendo à distância do local e de modo a não ser afetados pelo desgaste da longa viagem de carro, entre Portugal e França, optámos por nos deslocar com alguma antecedência para a prova. Assim foi possível passearmos um pouco pela região bastante bonita, realizar alguns pequenos treinos e fazer o reconhecimento de grande parte do percurso da prova. Depois de visitado o lago, onde iriamos nadar, foi a vez de reconhecer o difícil percurso do segmento de ciclismo, o que acabou por nos assustar um pouco, tendo em conta as pendentes a subir bastante difíceis (até para a carrinha), com algumas a chegar perto dos 20% e as estradas bastante sinuosas que encontrámos ao longo da maioria das descidas. Ainda assim, na véspera da prova e apesar da apreensão, o espírito estava bastante positivo.

Chegado o dia da prova, levantámo-nos bem cedo, de modo a nos prepararmos sem pressas para a partida do segmento de natação, que se iniciou bem cedo. Às 06h30, ainda bem escuro e sem qualquer visibilidade na água, foi dado o tiro de partida para a III edição do Bearman XTRI. Mais uma estreia para muitos dos participantes, incluindo eu, que nunca tinha nadado em águas completamente escuras. Mais uma vez, a organização surpreendeu os participantes com a distribuição de uma pequena luz, para colocar entre a touca e cabeça, permitindo assim controlar os nadadores na água e proporcionando imagens espetaculares para quem assistia, com as as pequenas luzes a avançarem na água e a espalharem-se pelo lago. Boa prestação dos atletas do Clube, que não sendo grandes nadadores saíram com um excelente tempo, menos de 1h20´ e muito bem posicionados, no final dos 3.800 metros de natação.

Já com o dia a nascer iniciou-se o segmento de bicicleta, que para além da muita altimetria, com a qual já estávamos a contar, acabou por ter ainda um acréscimo de dificuldade que não estava prevista, com um verdadeiro dilúvio a abater-se sobre a região ao longo de toda a etapa. Esta situação acabou por desgastar ainda mais os atletas, devido ao frio e à concentração extrema com que tinham que ser encaradas as descidas vertiginosas. Apesar de ter começado o segmento com um andamento com alguma contenção nas subidas, onde perdia algumas posições, mas aproveitava bem as descidas e conseguia recuperar as posições perdidas e ganhar mais algumas, com um susto ou outro pelo meio, já que o percurso esteve sempre bem molhado e em alguns casos com rios de água e lama.

Por volta dos 100 km, aconteceu aquilo que mais receava, mas que já estava à espera, devido à falta de treinos longos no período de preparação para a prova, acabei por "empenar", ainda por cima mesmo antes de iniciar a ascensão ao ponto mais alto da prova (+ de 1.500m). O que me valeu é que depois do alto e até final, a maioria dos quilómetros eram a descer e os 180 km foram concluídos em 9h15´, acabando por ser um tempo bastante aceitável, face à dificuldade do terreno, com uma média de 20 km/h, melhor do que estava à espera. O Pedro Silva que vinha cerca de 10´ atrás de mim, acabou por me ultrapassar no início da ascensão ao Col d´Ares, tendo chegado à transição para a maratona com 17´ de vantagem, demostrando estar em muito boa condição física. Já o Pedro ia com 4 km, quando cheguei à transição, que realizei com alguma calma, mas sem perder tempo desnecessário, iniciei a corrida, com o pensamento que já só faltava uma "maratonazinha" com 1.500 de subida acumulada.

O percurso do segmento de corrida iniciava-se com uma primeira parte, onde percorríamos uma estrada de montanha, que ora subia, subia, subia, ora descia e onde quase todos, o melhor que conseguiam era andar rápido nas subidas e correr nas descidas. E assim, os km foram passando a bom ritmo até ao km 30, altura em que passámos na zona da chegada. Aí a coisa complicou-se um pouco, quando foi necessário subir bem durante mais 5 km, até ao alto da montanha onde estavam instaladas as antenas de comunicações.

Daí até final e mesmo com as pernas já um pouco em mau estado, foi sempre a descer até à meta instalada em Amelie-les-Bains, onde cheguei ao fim da maratona com 5h22´ e com um tempo total de 15h44´. A esta hora, já o Pedro tinha chegado há quase uma hora, com um total de 14h51´. Esta prova teve ainda a particularidade de não existirem classificações por escalões, o que nos penaliza um "pouquinho". Ainda assim, na classificação geral, o Pedro Silva alcançou um fantástico 15.º lugar entre os 80 que iniciaram a competição e eu, o 29.º.

No que respeita à prova do Half, o atleta do Clube esteve em grande evidência na natação, ao ser o primeiro a sair da água, mas no decorrer da prova acabou por ir perdendo muitas posições, fruto da sua juventude e inexperiência nestas andanças, tendo ainda assim conseguido terminar a prova em 57.º lugar, com um tempo total de 9h31´.

Em resumo, foi um triatlo exclusivo para Homens de Ferro, que não enferrujam, já que para além da dureza da prova, ainda tivemos que adicionar o dilúvio durante o segmento de ciclismo.

Veja aqui um pouco do que foi a prova.

Aceda aqui à classificação geral XXL.

Publicado em 26/09/2019