Desporto

Triatlo de Lisboa

Relatos dos Associados Vitor Gomes, Sónia Rodrigues, Fernando Serra, Rogério Araújo e José Teixeira

Ainda hoje estou para perceber como me deixei convencer, mas inscrevi-me no Triatlo de Lisboa.

Pelos comentários que já tinha ouvido dos mais experientes nestas andanças, o que mais me "assustava" na natação era aquela confusão inicial, a passagem pelas bóias e a saída da água. Assim, e para evitar confusões, deixei todos entrar na água e fui nas calmas. Devo ter sido o último a entrar na água.

Dou dois passos na água, piso uma rocha grande e banho. Ok, é uma bela maneira de começar. "Tracei" um "azimute" à bóia e lá fui eu. Correu muito bem, estava solto e rapidamente cheguei à 1.ª bóia. Quando estou a chegar sou literalmente atropelado pelos nadadores que foram mais por fora e agora estavam a fazer a passagem junto à bóia, bebo uns pirolitos, entro em stress, e tento agarrar-me à bóia, má opção, começo a levar com a bóia, mais uns pirolitos, resolvo afastar-me da bóia, levo mais umas chapadas mas lá consigo passar a bóia por fora. Creio que perdi uns 5 minutos para a passar e gastei mais energia do que seria necessário.

Da 1.ª para a 2.ª foi fácil, foi a favor da corrente e cheguei lá rapidamente, tive apenas que fazer uma correcçãozinha a meio porque estava fora de rota. Contorno a bóia por fora para evitar confusões e aponto para as bóias finais. Não percebi ao certo o que aconteceu mas não conseguia progredir, acho que por causa da corrente, o que é certo é que com o desgaste anterior comecei a sentir-me cansado e resolvi alternar o crowl com costas, só que quando nadava costas perdia o rumo e a maré mandava-me para cima das rochas, quando batia nas rochas voltava ao crowl e entrava no rumo novamente. Aconteceu-me isto 2 ou 3 vezes, na última tinha lá o Lomba (com um pau) a mandar-me embora dali.

Lá consegui chegar à areia. Devo ter demorado uns 15 minutos para fazer estes 100 metros. Subo as escadas e vou para a bike, tiro a touca, os óculos e a camisola, visto a camisola do Clube e calço os sapatos da bike, aqui também tive algumas dificuldades porque ainda estava um bocado desnorteado e descoordenado. Saio do parque, monto a bike e lá vou eu. Demorei um pouco a ajustar as mudanças para rolar mas correu bem, consigo passar talvez uma meia dúzia de ciclistas, alguns deles em rodas fininhas.

A transição para a corrida já foi mais fácil e rápida. Levei uns metros para habituar os músculos mas nada de especial, voltei a ultrapassar mais uns atletas e acabei o meu primeiro triatlo no fantástico tempo de 56 minutos.

Notas: Foi a primeira vez que nadei mais de 100 metros em "águas abertas" e por isso estava bastante receoso neste segmento. A estratégia que escolhi foi quase boa. Tenho de afinar o ataque às bóias e treinar natação mais a sério. A 1.ª transição é complicada porque se chega um bocado desnorteado com a saída da água. No próximo vou experimentar sentar-me, acho que ganho tempo. O ambiente é muito giro e o apoio foi fantástico. Que venha o próximo...

Vitor Gomes

Foi a ver o Triatlo de Oeiras que decidi provar a mim mesma que também conseguia, e abracei o desafio de participar no Triatlo de Lisboa.

O estado de ansiedade iniciou-se na sexta-feira, onde um "nervoso miudinho" tomou conta de mim.

Foi o cair em mim e perceber que me tinha atirado de cabeça a um desafio quando: recomecei a dar umas braçadas ensinadas por atletas mais experientes e passei a ir às aulas de natação, onde o prof. diz-me: "Não fazes natação sincronizada, não tens os braços sincronizados". Ok... estou claramente tramada. Não sei nadar.

Para piorar, não obstante todas as aulas de spin bike, tenho pânico de pedalar em estrada, incomoda-me o barulho dos carros a aproximarem-se, incomodam-me as outras bikes! Treinei os dois domingos antes e foi uma tristeza. No primeiro dia, os carros a atravessarem-se principalmente nas curvas e rotundas, quase que me obrigavam a saltar da bike... surreal.

Sábado mal saí de casa, com a barriga e estômago às voltas. Não comi e mal dormi.

Quando chega domingo e chego ao local, é começar a ver as caras amigas, inspeccionar o local e olhar com medo o rio. Mas junto à ansiedade, sentia-me sorrindo. Pela coragem de estar ali, com todos os handicaps. Entrar naquele rio foi mesmo, para mim, o que eu visionava: entrar no Canal da Mancha, sem saber bem qual das bóias ligava o Oceano Atlântico ao Mar do Norte!

Deixei os grandes nadadores avançarem e avancei sem atropelos, no meu jeito crawl não sincronizado. Percebo que ultrapasso alguns. Sinto que a corrente me empurra para a esquerda, afastando-me da primeira bóia para dar a volta. Começo a ouvir um respirar sôfrego de uma rapariga que nadava a custo perto de mim e a incomodar-me. Tento dar a volta à bóia mas a corrente puxa-me e estão dois senhores agarrados a ela que a puxam para baixo e com ela, empurram-me a mim também! Lembro-me de ter pensado: "assim não me safo, estou cansada" e comecei a nadar de costas. E ia assim nadando e parando para me situar e cada vez que parava lá era arrastada mais uns metros. Passei por alguns participantes que chamavam os botes de apoio e eu lá continuava a nadar de costas, poupando as pernas que ia precisar delas. E a corrente a puxar-nos para as rochas! Mal ou bem, no estilo correcto ou não, a verdade é que foi a nadar de costas que cheguei à margem.

Levantei-me bem, corri pelas escadinhas mas quando paro junto à bike para efectuar a transição, "Wow", desequilíbrio total. Estava mesmo tonta. De tal forma que uma das assistentes perguntou-me se estava bem. Lá arranquei para a segunda aventura: 8 km de bike... bom, isto não é nada perante a ida à Malveira no treino do domingo anterior. É quando me deparo, no fim do 2.º km com o local para dar a volta para trás. Eu tentei mas ia caindo, saltei da bike voltei-me para o miúdo assistente que lá estava e perguntei-lhe se podia dar a volta assim, ele diz que sim e eu respondo: obrigada, um destes dias aprendo a fazer isto! A "brincadeira" repetiu-se nas duas curvas seguintes e confesso-vos que gargalhei em grande, no meio daquela azelhice toda estava feliz. E eis que chego ao início da terceira etapa: corrida. E aqui mais tranquila, embora cansada, com as pernas meio trôpegas mas lá atravesso a meta com um sorriso que vem de dentro, bem presente.

A bem da verdade, esta felicidade, "de dever cumprido e que não tinha falhado perante aqueles que me desafiaram e apoiaram, e todos terminámos", chegou calma e lentamente quando cheguei a casa. Fui sendo invadida por um sentimento que me é difícil transmitir... só quem já o fez sabe do que estou a falar. Uma mescla de felicidade, calma, paz e tranquilidade mas sempre sorrindo mesmo que este sorriso não se visse, que contrapôs os iniciais momentos de adrenalina, nervos, desorientação, receios, vontades, "rush"!

Percebo o quão fundamental e importante para mim foi, ter ao fim de cada etapa o meu filho a gritar "Força Mamã"!, a Mamã a gritar "Força Filhota". E os amigos tão meus "Força Loirinha".

Foi a primeira vez que fiz desporto competindo, apesar de anos de treino em cima. O bichinho da competição mordeu-me e envenenou-me docemente. Mas o competir comigo mesma, o desafiar-me a fazer mais e melhor. Hoje sei que, com treino, dedicação, determinação e o mais importante, estar rodeada das pessoas certas, não há impossíveis.

E a jeito de conclusão, porque é um exercício que faço comigo mesma, tentando fazer de cada dia um dia diferente, por muito mínimo que seja aquilo que faça, partilho o que aprendo: A nossa vida é toda ela feita de momentos e as nossas memórias não são lineares como a seta do tempo em que passado, presente e futuro se seguem em ordem cronológica. Há momentos que se sobrepõem uns aos outros na nossa mente! E há certos dias que agarramos o momento presente e vivêmo-lo com ousadia, garras e ganas! Foi assim que vivi o domingo passado!

Há momentos que são oportunidades que não devem ser recusadas, adiadas, ignoradas porque podem voltar... ou não. Porque o que temos como mais certo é que as nossas Vidas sejam dobragens improváveis de outros dias, como se o tempo fosse um disco riscado e ficasse repetidamente a tocar a mesma faixa. Mudemos o disco e ousemos... tendo sempre presente que não podemos esperar demasiado tempo para viver, não acelerar o querer que ainda não é existente; não desejar o momento inalcançável e não desperdiçar o momento que se nos é oferecido.

E como todos os dias são meus, há excepção de dois, o que quero transmitir é: ousem! "Não é porque certas coisas são difíceis que nós não ousamos. É justamente porque não ousamos que tais coisas são difíceis!" - Seneca.

Sónia Rodrigues

De repente apercebi-me que tinha a fasquia tão alta. Ia tentar completar um triatlo olímpico.

Este era o meu terceiro triatlo, tendo também este ano experimentado a recente vertente denominada Aquabike (natação - bicicleta).

Apesar de ser reduzida, já achava que tinha alguma experiência.

O verdadeiro problema eram mesmo as distâncias - quando me apercebi, já depois de ter dito a mim próprio, verifiquei que as distâncias eram rigorosamente cinco vezes mais do que a prova de lazer. Mas o compromisso estava assumido. Tinha participado em Oeiras no super sprint e adorei (achei a natação muito curta e muito rápida).

Agora era diferente, o dobro das distâncias, o chamamento dos sócios amigos e familiares para apoiarem a equipa, estava bastante nervoso porque não queria falhar, mas o desafio era enorme.

"Há momentos que são oportunidades que Não Devem Ser recusadas, adiadas, ignoradas, porque podem voltar... ou não"; foi este mesmo o pensamento que tive para assumir este desafio.

Resumindo, a prova não foi fácil, tive que agir mais com a cabeça do que com a força bruta que por vezes a musculatura nos dispensa naquele instante, sempre a pensar no que faltava fazer e no compromisso que tinha para comigo próprio - terminar a prova sem problemas físicos e/ou mecânicos.

A natação foi mais difícil do que estava à espera com correntes fortes e de bracinhos à mostra que contrastava com todos os restantes "prós" com fato completo, todos de negro e eu ali que até parecia o patinho feio de calçãozinho e um top branquinho.

Lancei-me à água, venci as dificuldades e as desigualdades.

Depois bike mais a corrida, foi pôr a cabeça a funcionar utilizando o seguinte objectivo "esticar o elástico a roçar o máximo, mas sem partir".

No percurso da bike ainda vi atletas cairem à minha frente, tive que fazer umas travagens bruscas, seguidas de zig-zags, vi uma série de desistências, ciclistas a passarem por mim uns pela esquerda outros pela direita, o vento nada ajudou, enfim, e eu a pensar "juízo", porque isto faz-se.

Tanto na bike como na corrida, à medida que ia avançando, ia ficando cada vez mais convencido "tu és capaz e vais conseguir" é este querer que me dá alento para continuar o desafio.

Não tenho qualquer dúvida que qualquer um dos estreantes e recentes participantes consigam sem qualquer problema realizar o desafio que acabei de concretizar.

Senti uma enorme alegria quando cortei a meta.

Tenho muito orgulho e prazer em fazer parte desta maravilhosa equipa, um bom grupo de amigos, apesar de recentemente ter entrado neste grupo, já me sinto em casa.

Na minha opinião, temos todos o privilégio de ter um fio condutor, O Clube Millennium bcp, para sermos os electrões livres, que na secção de triatlo navegam todos para a mesma direcção. É nossa responsabilidade transformarmos o nosso universo laboral de forma a que seja menos isolador e mais condutor trazendo novos sócios a fazerem parte desta corrente que me orgulha pertencer.

Relativamente à competição, a minha opinião é que na nossa vida (entre outras coisas), existe uma árvore, com vários ramos principais: a cultura, o lazer, os tempos livres, e desporto, e é sobre este último que estamos aqui a conversar, que são necessários os treinos, que são as folhas do ramo. Quanto mais folhas e mais verdes, melhor, porque é através destas que circula o oxigénio que alimenta toda a árvore. Mas a competição é a flor que tanto embeleza o ramo e se destaca no meio das folhas. Saudáveis e bonitas flores dão ainda bons frutos, o convívio, a alegria que fomos todos presenteados no passado domingo. Esses frutos são também alimento para as folhas (treinos), para a boa forma física e qualidade de vida, para os objectivos que nos propomos fazer, são o resultado do nosso esforço que tanto nos orgulhamos e que queremos também mostrar aos outros em nosso redor, familiares, amigos e demais.

Sem flores não há frutos, e o conjunto das folhas não é tão bonito.

A competição saudável, leal, fraterna, estes momentos de convívio e conhecimento de novas pessoas, são o meu tónico para que eu continue a competir comigo próprio, apesar de continuar a avançar na idade, desafio-me a mim próprio na perspectiva de melhor, dentro das minhas limitações - esticar o elástico sem partir. Para a próxima época quero repetir esta experiência, mas tentando fazer menos de 3h30m (1), terminando a prova bem disposto de igual forma como esta. Este é o meu desafio, ter saúde, disponibilidade física e mental para continuar nestas andanças e continuar a ter o privilégio de pertencer a este grupo desportivo.

Fernando Serra

Em Março deste ano, dificilmente imaginaria que poderia voltar a competir e a fazer provas, muito menos sonhar com um triatlo, modalidade de enorme exigência física e mental que nos coloca inúmeros desafios.

Uma lesão num joelho impediu-me durante um pouco mais de dois anos de poder fazer o que quer que fosse (nem o simples exercício de manutenção em ginásio) e duas sentenças médicas para a sala de operação, a última nesse mesmo mês, ditavam um futuro desportivo incerto e difícil.

Um conjunto de circunstâncias que não vêm a este fórum detalhar, acabaram por conduzir a uma recuperação insólita e gradual das dores e do processo inflamatório e eis que me vejo a 22 de Maio, num domingo radiante de sol, a participar num segmento do treino longo promovido pelo Humberto Lomba para apoiar os rookies atletas que desejavam aventurar-se nesta modalidade no Triatlo de Oeiras marcado para Junho.

Cerca das 9h30, vi a “alcateia de lobos” chegar das suas de mais de duas horas de dar ao pedal, depois de às 6h30 terem feito um aquecimento na água fresquinha da praia da Torre.

Juntei-me ao grupo e fiz cerca de 5 km de corrida com alguma dificuldade e acabei no rio com o Humberto e mais outros amigos a puxar pelos braços num kayak de mar.

Foi um momento de enorme estímulo que associado ao facto de desejar ardentemente recuperar acabou por despoletar a faísca que incendiou parte daquela centelha vital que cada um tem dentro de si e que explica o quanto desejamos provar que estamos vivos (independentemente da idade).

Nesse dia estabeleci uma prioridade na minha recuperação e um objectivo: recomeçar de forma consistente, sem pressas, sem esforços exagerados, testando os limites da dor ainda persistente e adicionando mais tempo de forma cautelosa e gradual, ao mesmo tempo que ia construindo o momento em que vos pudesse dizer que gostaria de me juntar ao grupo e aceitar o desafio do primeiro triatlo.

A participação dos nossos iniciados no Triatlo de Oeiras e todas as crónicas e mensagens então trocadas, apenas contribuíram para me motivar de forma supletiva e irreversível nesta aspiração.

Mantive um entusiasmo crescente no processo de treino e de recuperação até que em Agosto, já em férias, aceito o convite do Humberto para participar no 1.º Triatlo de Lisboa.

Treinei muito e com muita emoção nessas 2 semanas e meia (natação de mar e corrida) sempre a olhar para o dia 18 de Setembro.

No domingo de 18 de Setembro cumpri um sonho e construí mais um pouco do meu ser (acredito que essa construção nunca pára toda a nossa vida e que podemos sempre apreender acrescentar elementos positivos e fundamentais ao nosso Eu).

Esse dia chegou depois de ter começado a correr em final de Maio (bem devagarinho), a nadar a 13 de Agosto (primeiro dia de férias) e a andar de bicicleta na estrada (2 vezes) agora em Setembro (apenas rpm de ginásio).

Cheguei a esse dia com o apoio indefectível e a paciência do Humberto Lomba e do João Lucas Coelho que me deram todo o auxílio de que precisava, para conhecer mais da modalidade, para comprar equipamento, para as dicas e conselhos de quem é campeão por direito próprio e tem ainda uma natural propensão para ajudar os outros sem mais.

Os dois treinos conjuntos propostos pelo Humberto nos domingos anteriores foram fundamentais para me dar confiança. Partilhei com o grupo as minhas fraquezas e as também as minhas quedas de bicicleta.

Depois de estar no meio do grupo foram também muitas as conversas, principalmente com o Pedro Caeiro que serviram para balizar as minhas condições de preparação para a prova.

O último treino individual na sexta-feira, dia 16, contribuiu para solidificar a minha determinação e me dar um pouco de serenidade.

Mas os medos estavam lá: a natação de mar com dezenas de atletas a competir por espaço e ar à nossa volta e a possível queda da bicicleta, eram temores que vinham sempre à tona com a ansiedade da hora que se aproximava.

Curiosamente e contra todas as expectativas, dormi relativamente bem nessa véspera do grande dia.

E o Grande Dia chegou, como todas as provas das nossas vidas para nos colocar à prova a força, a coragem e a determinação em ultrapassar o obstáculo, para muitos uma espécie de monstro Adamastor.

Foi muito importante encontrar a maior parte dos nossos triatletas a apoiar os neófitos e a dar as suas últimas indicações para os diferentes segmentos da prova (assim como os gritos de incentivo no decurso da prova).

O sentimento de pertença ao Grupo fez crescer essa determinação pessoal de vencer. Depois foi tudo uma novidade: o ambiente, o parque das transições, a colocação do material para os diferentes segmentos no cesto (e a compreensão de que haveria de ter ensaiado previamente o respectivo arrumo para não arranjar confusões na transições), o chip, as validações electrónicas, o vestir o fato de natação, o contacto preliminar com a água (só para experimentar o sabor), a falta de aquecimento (!!!), a montanha de gente que se acumulava junto à linha da partida, as tocas dos federados, a multidão que observava, as bóias e o horizonte, o tiro de partida.

Depois veio a escolha do meu momento de me lançar à água, o frenesim do chapinhar de centenas de braços e pernas, a turbulência branca por todo o lado num mar picado de movimento, a primeira tentativa de concentração para aliviar a ansiedade e reconhecer que todos aqueles encontrões, pontapés, eram naturais e que daí a pouco tudo ficaria mais fácil.

De facto, a primeira bóia foi o momento crítico e não me correu bem. Deixei-me enrolar na confusão e acabei a virar de bruços. Depois foi tudo mais fácil e veio o empenho em superar e em construir o meu ritmo. Passada a segunda bóia, começou a preparação mental para a transição que depressa foi quebrada pela força da maré que empurrava para as rochas do forte. Ouve um levantar da cabeça e novo empenho para sair dali depressa.

Sai da água a lutar não com o cansaço do início da corrida mas com o topo do fato que teimava em não abrir (demasiado colado no velcro). Depois foi a subida das escadas em ritmo, o parque, a passagem irregular por baixo de dois varões (!!!) e encontrar o Pedro Caeiro a apertar o capacete e pronto para sair e eu a ter de tirar o fato e aparelhar-me.

Tínhamos certamente uma diferença de cerca de 1 minuto e eu não queria perder mais nos outros segmentos para ele. Saí sozinho para a estrada e sem óculos (graduados), pelo que não podia avaliar as distâncias com clareza. Concentrei-me em estabelecer um ritmo (contra o vento e a favor) e dar tudo o que tinha para não o perder. Só fui passado duas vezes. As curvas foram o meu calcanhar de Aquiles: apertadas e eu sem experiência suficiente para manter a pedalada. Mas não caí. E também não caí quando desmontei da bike à entrada do parque de transição.

A mudança foi muito rápida (a melhor das duas) mas à saída para a corrida ia distraído ainda com o capacete. Tive de voltar para trás mas não perdi tempo. No meu segmento preferido fui constante (ainda que os míseros 2 km me tivessem parecido 5). Estava confiante e também aí só fui passado duas vezes. A meta foi uma emoção junto à Torre de Belém. Chegar e sentir todas as emoções que saiam juntamente com o cansaço da prova curta mas imensamente intensa.

Acabei com uma grande satisfação de cumprimento pessoal. Como partilhei com a Sónia Rodrigues, estes momentos proporcionam-nos um crescimento interior e crescemos uns centímetros no nosso ego.

Acima de tudo fica um dia para a “nossa” história como seres humanos: foi um dia de serenidade e exultação, daquela simbiose perfeita de conjugação entre todos os elementos (físicos e mentais), que resulta em experiência mística no momento em que concluímos a nossa missão.

Quero agradecer-vos a Todos pelo incentivo e pelo apoio sempre constantes.

Fica a promessa de, para o ano, querer chegar ao olímpico... com um sprint pelo meio. E de continuar a merecer a vossa confiança e amizade.

Outros agradecimentos e manifestações sobre o dia já vos deixei noutro e-mail e noutros contactos. Obrigado.

Rogério Araújo

O difícil é explicar tudo o que gira à nossa volta, quer seja a primeira experiência ou não, nesta modalidade. Tudo é diferente de prova para prova e desta vez não fugiu à regra.

Se em Junho no Triatlo do Ambiente tudo era novo e parecia algo difícil de alcançar a meta a que me tinha proposto por total desconhecimento do que era uma prova de triatlo, agora em Belém tudo foi diferente e voltou a baralhar a ideia que tinha de uma prova na modalidade de lazer; o mar muito mais difícil e o vento a bater forte impedia que nadássemos como estamos normalmente habituados fazendo com que a corrente nos obrigasse, por falta de hábito, a tentar com mais insistência controlar a nossa rota, mas com facilidade me dei conta que isso não era suficiente para seguir em frente tamanha a força da água.

Acho que nadei o dobro do tempo que em Oeiras e houve uma altura que o grupo em que eu seguia até foi avisado que tínhamos de recuperar a posição mais ao largo se queríamos contornar a segunda bóia da prova tal a força da corrente que nos baralhava as voltas. Após grande esforço para contornar a bóia veio a pior parte do trajecto com o mar a empurrar os atletas para as rochas do nosso lado direito.

Se conseguimos ultrapassar a corrente, então que venha uma prova de Sprint porque o tempo que passámos na água e a dificuldade em concluir a distância foi tal que já devemos estar prontos para algo de mais "forte".

A bicicleta acabou por ser um "descanso" merecido para os braços e acabou por ser a parte menos difícil da prova até porque o circuito era plano facilitando a vida mesmo para quem como eu tinha uma bicicleta antiga e emprestada.

A minha única preocupação foi ao aproximar-me da zona de transição se iria ter novamente aquela sensação estranha de que as pernas não eram minhas no momento em que fosse começar a correr. Felizmente responderam bem à transição da bicicleta para o chão e se não fosse uma pequena cãibra nos gémeos nos primeiros 500 metros julgo que teria feito melhor figura no segmento do atletismo.

Sublinho o espírito de grupo que mais uma vez se formou, com uma entreajuda fantástica, em nos ajudar, incentivar e aconselhar antes e durante toda a prova, e ainda a todos os que apareceram por lá para nos apoiar!

Sónia, ficas para o fim mas bem mereces estas linhas. Tenho de deixar bem claro que tu foste fantástica ao longo de toda a manhã; desde o stress antes de entrar na água até à cara de prazer de quem corta a meta com um objectivo cumprido em tão pouco tempo depois de teres tomado a decisão de fazer a prova e a forma como lidaste com todas as dificuldades sempre com aquela boa disposição que te é conhecida. Faço votos que esta seja apenas a primeira de muitas mais provas e que continues a contagiar as pessoas com a tua forma de estar!

José Teixeira

Publicado em 26/09/2011