Desporto

Half IronMan Cascais 2018

Leia os relatos impressionantes dos Associados Diogo Pereira, Nuno Nobre e Ricardo Mendes!

Decorreu no último domingo de setembro, em Cascais, mais uma edição do Half IronMan Cascais, prova muito participada, com muita adesão de estrangeiros/turistas, uma vez mais bafejada pelo bom tempo.

Leia abaixo os relatos impressivos de alguns dos nossos Associados presentes na prova, bem como as fotos que ilustram o que é a modalidade.

Relato de Diogo Pina Pereira

Mudei!

No início do ano, janeiro, no meio de uma conversa banal, decidi fazer a prova do Ano - IronMan 30 Setembro em Cascais 2018. Sem ter qualquer conhecimento sobre a modalidade, comecei a investigar e decidi que poderia tentar. Sendo apenas um corredor ocasional, este sonho seria muito para além da corrida, pois teria que voltar a nadar (não praticava há mais de 30 anos) e tinha de comprar uma bicicleta de estrada. Sim, nem bicicleta tinha!

Mas a ideia estava lá! Triatlo - Cascais, na minha terra! Porque não?!

Vamos começar pelo princípio da história... treinar! Ginásio ou rua? Logo se vê. Dei de caras com uma modalidade intensa, cheia de pormenores que são valorizados por todos e em tudo conta. Para quê? Para ser mais rápido no dia da prova.

Rapidamente percebi que fazia frio e que precisava de uma piscina para recomeçar a nadar. Porque não na piscina onde os meus filhos já nadam? "Kanguroo" aqui vou eu! Encontrei profissionais fantásticos que me apoiaram logo no 1.º minuto. Rapidamente percebi que eventualmente poderia estar para ter início as aulas de triatlo no próprio ginásio. Fiquei empolgado na hora. Depois começou a saga da procura de uma bicicleta. Para os não aficionados pela modalidade, são apenas umas rodas e uns ferros e travões. Pois acreditem que é um mundo à parte. Um Universo. Mega!

Bicicletas de alumínio ou carbono? Shimano ou Campagnolo? Rodas de perfil ou rodas normais? Um mundo completamente novo para mim, para todos os gostos e para todas as carteiras. Conversa para aqui, conversa para ali, a BikeFix foi a resposta para todos os meus problemas. Pessoas sábias, experientes, práticas, simpáticas e essencialmente honestas. Criou-se logo uma ligação de amizade e enorme cumplicidade, que acabou por vir mais tarde a provar tudo isto. Comprei uma "CEEPO" - Venon, equipada com o essencial, sem grandes luxos, mas muito polivalente. Aerobars, enchimento de garrafas de ar comprimido, suportes bidons extra e mais uns pequenos brinquedos.

Mas o essencial "0 km", nem 1 km de estrada tinha feito. O que diziam era: "-, isso agora quer é km nas pernas... muito rolo... muita estrada. "- mas cuidado, na estrada, é muito perigoso!". Meu Deus, onde me meti?

Aqui vou eu. Faço os meus primeiros km na bicicleta e parecia que tinha levado uma real tareia. 30 km de tareia para ser mais exato. Doíam-me os músculos todos: as pernas, o rabo, o pescoço, ai os lombares... nem me mexi no dia seguinte. Percebi logo que precisava de ajuda! Conversa aqui, conversa ali e comecei a fazer umas aulas de spining no "Kanguroo", pois na rua chovia impiedosamente.

Tentei manter as corridas no meio das idas diárias à natação e com a bicicleta doida para ir para a rua. Aqui começou a verdadeira mudança de vida. A alimentação já não era a mesma e a carga física era uma constante. Tudo mudou! Tudo era diferente! Diferente para melhor, curiosamente. Mais alegre depois dos treinos e a alimentação passou a ser muito mais saudável.

Sempre com a ideia de 30 de setembro. Cascais - Ironmam.

Mas tinha de começar por algum lado... Federação Portuguesa de Triatlo. Como chegar lá? A solução surgiu em casa e por mero acaso: "- lá no banco existem uns maluquinhos que fazem isso. Porque não te inscreves pelo Clube Millennium bcp?".

Pareceu a ideia mais óbvia e a partir desse dia começaram a chover emails na minha caixa... (Humberto Lomba, João Silva, Hugo Peralta). E lá entrei! Licença 1513. Agora só falta começar as provas.

Sprint, duatlos, distâncias olímpicas, triatlos sprint, o que é isto? Será que consigo? Vou começar pelo mais básico. Duatlo distância "Sprint" (5 km corrida + 20 km bicicleta + 2.5 km a correr)... fácil! Onde? Arrunches! Aqui vou eu... transições? Que confusão! Ténis de corrida, atacadores, sapatos de ciclismo presos à bicicleta, mais ténis... que odisseia!!! Mas terminei. Muito contente com a minha estreia.

Depois disso, treinos e mais treinos. Horas de ginásio com o foco para dia 30 de setembro, mas ainda tinha experimentado nadar no mar. Continuava o frio e a chuva. Fatos de neoprene não são novidade para mim, mas para nadar têm algo que se lhe diga. Mas lá encontrei um à primeira.

Fiz mais outra prova cheia de sucesso em Coruche Duatlo - "sprint" e pensei, bem temos de ir para o mar como os crescidos... Já tinha vindo o bom tempo e a bicicleta já saía à rua. Nadar sempre. Correr alternado com a bicicleta. Então confiante dei o salto.

Próximo passo será um triatlo! Onde? Quarteira. Perfeito. Distâncias mais que acessíveis, 750 metros... metros a nadar + 20 km ciclismo + 5 km a correr. Fácil!

Ia morrendo afogado! Ondas, vento, frio. Nadei tudo... crawl, bruços, costas e alforreca. Sim alforreca... pensei que nunca mais chegava ao fim. Demorei 50 minutos... ofegante e em modo de hiper-ventilação, verdadeiramente em pânico. Saí com ajuda e fui terminar a prova. Conclusão: isto afinal não é fácil...

Pensei que tinha cometido o maior erro da minha vida. Fiquei a pensar o que faria no dia 30 de setembro... desistir não é para mim! Vamos lá treinar mais! Vieram as mais variadas ajudas. Amigas psicólogas perceberam logo do meu estado e tiveram que me colocar operacional, sempre a pensar no meu bem estar. Os treinos foram reforçados na componente da natação.

Chegou o mítico Triatlo de Oeiras. Alinhado e pronto na linha da frente para a partida, começou o inferno. Os primeiros 250 metros foram de fugir. Sem respirar e com todos os outros atletas a passar por cima. Passei mal. Melhor que em Quarteira mas, ainda assim, mal. Terminei a prova com superação mas muito longe do aceitável.

Pensei que isto não podia ficar assim. Peniche seria já o próximo. Fui mas com muitas cautelas. Segui muitos conselhos, fiquei para trás nas partidas, nunca fiz as boias rentes, sempre ao largo. Muito cauteloso. E aqui sim! Simplesmente genial. Nadei, pedalei e corri como nunca antes. Fiquei radiante. Vi uma luz para setembro.

Os treinos agora tinham sido intensificados com carga e mais "Fartleck" era já amigo constante da casa. Alimentação sempre com cuidados para não ser de menos. Suplementos vieram e tornaram-se habituais, com BCAA à mistura. Fiz ainda a prova de Alhandra, mas a meta era mesmo 30 de setembro - Cascais Ironmam.

Entre trabalho e férias veio o desafio de uma prova longa no Douro a 25 de agosto - veio mesmo a calhar. Campeonato Nacional com os melhores do país. Distâncias, as mesmas que o IronMan em Cascais. Boa! Posso treinar aquilo que falta... fazer as distâncias todas seguidas para ver a reação do corpo aos géis e barras energéticas. Vamos a isso!

Douro, Peso da Régua, agosto, com prova marcada às 10 horas da manhã e previsão de 35ºc às 13 horas. O calor era insuportável mesmo com um percurso relativamente fácil (sem subidas).

A ajuda veio logo do nosso companheiro e atleta, António Moriés, que foi incansável nos conselhos sábios para todas as minhas dúvidas. Nada seria fácil, mas agora a parte mais complicada vinha do calor. A organização do evento não faltou com a hidratação, pois caso contrário seria o desastre total. Nunca bebi tanta água ao longo do percurso e em tão pouco tempo. Terminei a prova no meu limite. Sendo que o dia 30 de setembro estava já aí à porta. O tempo de prova não era importante. Mas ficou registado: 5h56minutos e 20 segundos. Boa!

Tinha 30 dias. 30 dias sem beber álcool. 30 dias para programar os últimos retoques na bike e na estratégia a traçar para a prova. Não cometer erros. Levar tudo em consideração. Treinos diários. Repouso obrigatório para os músculos respirarem.

Última semana para o derradeiro dia 30... Onde nada se ganha e onde tudo se pode perder. Massagem nas pernas durante a semana. Descanso. Não fazer esforços. Afinar armas. Não inventar. Fugir aos programas sociais. Alimentação cuidada.

Os dias aproximavam-se. A contagem regressiva era uma constante. Atletas e mais atletas nas ruas de Cascais. Montagens de estruturas para a prova e eu a ver tudo diariamente.

Dia anterior, fazer o último treino de mar na baía de Cascais. Com centenas atletas de 71 nações ali ao meu lado. Todos focados. Todos fisicamente atléticos. E eu! Bicicletas ali ao meu lado que só tinha visto em fotografia. Um parque fechado nunca visto. 2.600 máquinas todas lado-a-lado e a minha "CEEPO".

O meu nome constava nas t-shirts oficiais. Todos os que as compraram levaram com "Pina Pereira Diogo" nas costas, em letras minúsculas. Orgulho. Muito orgulho em fazer parte de tudo isto.  Tentava gozar o momento, mas os nervos começavam a apertar.

Dia da prova! 30 de setembro. Cascais. Objetivo do dia era acabar e tornar este sonho realidade. Se conseguir bater o tempo do Triatlo Longo Douro melhor, mas o objetivo era "Acabar".

4am da manhã e o despertador tocava, mas já me tinha levantado há 20 minutos atrás. Tinha de comer. Às 5h30am estava no local da prova. Nas logísticas para a prova metade das coisas já tinham sido largadas no hipódromo no dia anterior. A outra metade vinha comigo no dia: água, isotônico, géis, barras, bananas, roupa e alguns pormenores.

7am: último mergulho na baía para me habituar à água. Hino Nacional e encaminho-me para o meu grupo de saída. Dou por mim a correr em direção à água... aqui vou eu! 2.600 atletas de todos os gostos e eu! Nadei, nadei como nunca! Centenas de mãos me tocaram, mas nunca perdi o foco. Saí da água muito bem... agora com os 90 km pela frente. No meio da multidão ouvia sem problemas - "vai Diogo, força!", tinha a família e amigos a gritar. Momento único. Arrepios nas pernas e um sentimento de comoção ao mesmo tempo. Ficamos com a moral em alta e super motivados.

Ali ia eu com as minhas estratégias e mais 2.600 atletas. Fiz tudo direitinho. Tudo como planeado. Géis e bebidas às horas certas sem perder a concentração. Nota: ajudei com algumas dicas alguns atletas brasileiros que não conheciam o percurso. Mais tarde vieram me salutar e cumprimentar com um sorriso de orelha a orelha.

A experiência estava a ser maravilhosa. Andava num ritmo muito acima do treinado. Conseguia acompanhar o grupo ao meu redor. Rolar no Autódromo do Estoril foi magnífico. A bicicleta voava naquele alcatrão. Terminei este segmento com um tempo muito abaixo do previsto (2h47 minutos).

Agora só faltava a corrida. Eram só 21.1 km. Confesso que custou a começar mas mais uma vez tinha aquelas vozes a soar bem alto - "vai Diogo, é só acabar!". E dei por mim a pensar. Vais acabar isto. Vais conseguir! Por ti, por eles, por todos.

E acabei a minha prova! Sou um HALF-IRONMAM. Terminei os 3 segmentos com 5h30 minutos e 56 segundos.

Todas as pessoas fizeram questão de elogiar o meu feito. Eu fiz questão de agradecer a todas elas pois mudaram a minha vida. A minha vida mudou! Mudou para melhor. Sou mais feliz, mais confiante, mais saudável. Perdi o peso que tinha a mais. Mudei os hábitos alimentares. Mudei o modo de viver. Mudei!

Ser um Ironman é isto? Penso que sim. Mudamos para melhor. Faz realmente a diferença.

Obrigado a todos. Deste novo Half-Ironmam.

Relato de Nuno Nobre

30/09/2018, uma data para recordar, foram 2 meses de preparação e pela 1.ª vez treinei mais afinco para uma prova de Triatlo. O objetivo era fazer melhor do que no Setúbal Triathlon 2018 com 5h40m. Assim, com o início em agosto, comecei os meus treinos dando mais importância à natação e corrida não descurando a bike...

Eis que chega o dia da prova apesar dos percursos estarem mais do que estudados pois fazem parte da minha zona de treinos. No dia da prova tudo muda e o nervo miudinho apodera-se de nós. O meu único receio era o vento pois todos nós sabemos como é esta zona.

6h30am, perspetivava-se uma manhã ideal para o desporto. Às 7h30 é cantado o Hino Nacional na Baía de Cascais com o sol a nascer no horizonte... momento idílico que ficará na memória. 7h40, saída para a natação, parecia que estava dentro de uma máquina de lavar-roupa no programa de centrifugação tantos eram os atletas em meu redor; claro que levei mas também dei... palmadinhas. Percurso feito em 40m o que para mim foi excelente mas consciente que ainda tenho margem de progressão.

T1, o que posso dizer (enorme), nunca mais acabava, no entanto compreendo a organização pois em Cascais o hipódromo é o melhor sítio para dar dignidade e qualidade ao evento com tantos atletas (+/- 2.600).

Sector da bike foram 90 km de puro prazer com a marginal completamente disponível para os atletas o que não acontece todos os dias. No final 2h35m com média de 35 km/h. Sem querer estragar muito as pernas iniciei a corrida com o objetivo de fazer 1h30m. Lá parti decidido, mas isto do desporto não é o que se quer, é o que se pode e acabei em 1h38m. No final deu um tempo total de 5h05m27s.

Faltou um danoninho para fazer sub5 mas também não é por isso que fiquei desiludido com a minha prestação pois acima de tudo mostrei equilíbro em todos os sectores e é isso que nos faz progredir e tentar cada vez fazer melhor...

Ao logo do percurso encontrei dois colegas do Clube Millennium bcp que fui incentivando e uma palavra ao Pedro Mendes que encontrei em Carcavelos do lado de fora da prova, mas muito forte no incentivo... Obrigado.

Foi um dia memorável que aconselho a todos os que gostam de desporto a experimentar um dia... Aloha.

Relato de Ricardo Mendes

70.3 Ironman Cascais 2018. Grande ano de 2018, impensável fazer o que fiz este ano a nível desportivo.

Quando em novembro de 2017 me desafiaram para ir fazer a distância Half da marca IronMan a Barcelona, meu Deus, vamos a isso, disse logo! Mas depois da inscrição feita é que caí em mim. Como me meti numa aventura destas, eu mal nado 200 metros e em piscina, quanto mais 1.900 metros em mar! Pois bem, se é para fazer então vamos a isso.

Plano de treino, plano de provas a realizar, horas de rolos, muitas horas de piscina na companhia da minha filha que me deu algumas dicas (sim, porque quem nada desde os 6 anos, agora com 12, está literalmente como peixe na água), muitas horas em cima da bike, Troia-Sagres, muitos domingos de manhã a estar na praia antes do nadador salvador a ver o amanhecer para nadar, km de bicicleta e corrida. Tem sido assim o último ano.

Em Barcelona não correu como esperava, tive uma lesão num pé na semana antes que me impediu de correr em condições; sofri a bom sofrer durante todos os 21 km, apesar de ter terminado, até porque tinha investido muito, quer pessoal, quer financeiro. Desfrutei de todo o ambiente de prova e foi uma experiência magnífica! Pese embora ter saído muito desanimado, por causa da mania do ser humano querer sempre mais e melhor.

Uns dias depois, a minha família lançou-me um ultimato... Tens 2 dias para te inscrever para o Half de Cascais!!! Bolas, ainda não recuperado de um e já estou noutro! Vamos a isso, já tenho experiência e estou a "jogar" em casa; só podia ser melhor que em Barcelona.

Assim fiz, menos de 4 meses para treinar e aperfeiçoar o que fiz de menos bom. Treinei mais natação e fiz mais corrida. Pelo meio fiz a distância olímpica em Caminha, Duatlo do Jumbo; no mesmo dia ainda fiz a Corrida Jumbo, Meia Maratona do Porto e muitos treinos pelo meio. Finalmente chegou dia 30 de setembro; sentia-me em perfeitas condições físicas, sem lesões e muito motivado.

Mais uma vez defini como objetivo fazer abaixo das 6 horas de prova. A natação é sempre imprevisível e mais insegura, mas fiz com sorriso no rosto. Bike com média mais alta que o habitual; era aproveitar o bom tempo e conhecer bem o trajeto, depois arranjar forças para a corrida e esperar não sofrer. Como abusei na bike, sofri nas pernas o esforço da corrida, muitas cãibras, mas controlada consegui terminar dentro do tempo pretendido, 5.55,34h.

Podia ter feito melhor tempo, sim podia, mas como diz o treinador da minha filha, que muito me tem ensinado, se paguei então não interessa o tempo, temos de desfrutar e chegar à meta com um sorriso no rosto.

Quem ler este pequeno resumo deste ano, alguns triatletas do Clube, vão pensar: Não foi um tempo nada de especial! Mas para mim, tendo em conta a nossa profissão, super amador, muitos treinos sozinho, sem apoio, foi uma grande vitória de superação pessoal.

Claramente devo estes pequenos feitos a todo o esforço, dedicação, disponibilidade, privação de jantares com amigos, dias sem a família, lesões, tudo um pouco, mas o resultado final não podia ter sido melhor!

Dou os parabéns a todos os atletas do Clube que qualquer que seja o desporto que pratiquem, ganhem ou não medalhas, o importante é que pratiquem desporto.

Para 2019, para já, mantenho estas distâncias de prova, mas quem sabe se não junto 2 halfs num só e faço um IronMan completo; o tempo e o corpo vão mandar... Bons treinos para todos.

Publicado em 25/10/2018