Desporto

18.ª edição da Maratona do Porto realizou-se no dia 6 de novembro

Relato do Associado Rui Felgueiras

Dia de Maratona do Porto e Family Race. Houve tempos em que a primeira preocupação era juntar os participantes deste grupo de corrida do Clube Millennium bcp para uma foto de família antes das provas... infelizmente, não tenho esse registo.

Era sábado, dia 5 de novembro, e eu perdido. Nem sabia a que horas arrancavam as provas. Passei pelo Álvaro Pinto na tarde desse sábado e ele deu-me a novidade: "8 da manhã". Ok, 7h10 em tua casa amanhã e siga.

No domingo, 3 "clássicos" arrancaram de manhã cedo para a prova... eu e o Álvaro Pinto, e, claro, a Renault 4L. Chovia, estava frio e estacionámos nas traseiras da Avenida da Boavista e logo nos encontrámos, por pura coincidência, com mais algumas pessoas conhecidas, a Isabel e o Gil. Ora, entusiasmo, aquecimento e lá nos fomos dirigindo para as boxes da partida.

O ambiente conjunto destas provas é no mínimo inebriante... e ao mesmo tempo para uma pessoa como eu, uma confusão de cabeças e pernas que se cruzam e tocam a caminho de um sítio qualquer. Com toda a sinceridade, quando entro no meio de tanta gente, a minha cabeça fecha uma porta qualquer e quase deixo de percecionar o que me rodeia... e começam as contagens decrescentes.

Dado o tiro de partida da Maratona, percebemos bem que grande parte daquela mancha humana estava no sonho de fazer 42 km e uns "trocos". Também eu um dia cometi esse ato de "loucura" provocado por alguém... sim, o Álvaro, quem podia ser. Na altura também tinha acumulado centenas de quilómetros nas pernas para não sofrer as agruras da distância e sinceramente fiz a coisa bem e com paz. Levanto a cabeça e já vejo a mancha da Maratona a seguir, fazendo um trajeto que em quase nada era semelhante ao meu... ai a Family Race.

Antes da corrida, dizer que tenho estado num modo de treino que roça um misto de falta de consistência e um, já agora, faço isto porque me apetece... e pronto. Os treinos de terça-feira, dos "All About", faço-os por não falhar e depois o resto da semana vai ao sabor de tempos disponíveis.

No dia anterior a esta prova, "perdi-me" no monte a caminhar. Que dia de sol incrível, que sorte temos de ter um país onde o sol espreita com frequência. Uns arranhões nas pernas só fazem bem para nos sentirmos humanos, mas comigo a sorte fez com que nunca caísse e tenha mantido o sorriso, mas deveria andar por ali a desgastar-me num dia antes da prova? Como que me questionava um ser "superior"... porque não? Amanhã a prova seria o que fosse ditado pela minha cabeça.

Tiro de partida para os 10 km dado e na minha mente estava desenhada a coisa. Sentia-me bem, tinha aquecido pouco, mas o calor de tanta gente e a adrenalina de uma partida fazia o resto. Era disparar e tentar naquele primeiro quilómetro perceber onde estavam as minhas "peças"... falo de "peças" porque o ser humano, para mim, é um ser complexo, onde cada "peça" é talvez aquela que me poderá faltar, ou saltar mais à frente.

Correr, não é só o que parece ser. Correr, é a conjugação de treino físico, do descanso, mas para mim um sinistro jogo de forças com a nossa mente. Salvou-me essa força que corria em mim, que me fez estar a desenhar a prova na minha cabeça. "Zás", primeiro quilómetro a pouco mais de 4 minutos por quilómetro. Ok, era a adrenalina, pernas "check", respiração ainda não tinha ajustado, aquela sensação que não corremos, voamos... e os quilómetros foram-se sucedendo sem sensações más, a não ser pensar: "Rui Jorge, não treinaste para isto".

A corrida percorreu a marginal junto ao mar, desde o edifício transparente e em direção ao Rio Douro. Algures, começou o retorno. Aí sim, começámos a passar por pessoas, a sentir uns "vai Rui", um qualquer polegar a levantar, um sorriso, e, claro, se por um lado nos animamos, o ritmo vai descendo qualquer coisa com a passagem dos quilómetros.

Ora, é nesta perceção, que resiliência e pensamentos bons nos podem inverter a tendência de aumento de tempo por quilómetro. E de repente estava eu no sábado, com a cara a ser beijada pelo sol, a ser abraçado pelo calor de um ser "superior" e as pernas a conseguirem manter a cadência... e não demorei a passar na chegada.

Mas ganhaste a prova, Rui? Sim, ganhei a minha prova, voei no meu sonho, acabei bem. Prova feita, esperei o Álvaro e fomos apoiar os maratonistas. Corri ao lado de alguns elementos dos "All About", puxei por alguns "Millennium bcp" que passaram, senti-os alegres, leves, pesados, tentei ajudar no que pude, mesmo os corredores que não conhecia, como que numa sintonia do que quase sabia estarem a passar... um dia de paixão.

Fica assim mais uma nota escrita, por alguém que tem má memória. Quem sabe se me lembrarei de ler a mesma daqui a uns anos e sorrir.

Aceda aqui às classificações finais da Maratona do Porto e da Family Race.

Publicado em 08/11/2022