Desporto

António Passinhas foi do Porto até Santiago de Compostela em BTT

Percurso teve partida oficial na Sé do Porto e foi percorrido de 7 a 9 de setembro, num total de 280 km

Relato de António Passinhas

Desde 2019 que tinha em mente realizar um dos caminhos que nos levam a Santiago de Compostela, ideia que ficou em suspenso com a pandemia. Somente este ano voltaria a surgir a oportunidade. O plano era realizar o Caminho Português da Costa, do Porto até Valença, e depois o Caminho Central até Santiago de Compostela, num total de 280 km repartidos em três dias, com transporte para o equipamento.

No primeiro dia, a partida oficial foi realizada na Sé do Porto, onde consta um dos conhecidos marcos com o símbolo da vieira e a marcação de 256 km. A concha de vieira também é uma metáfora. Os sulcos radiantes na concha, que se juntam num só ponto, representam as várias rotas usadas pelos peregrinos que acabavam por chegar todos ao mesmo destino: o sepulcro de Santiago em Compostela.

Esta etapa terminou 84 km depois, em Viana do Castelo, e já ao anoitecer. O caminho foi percorrido debaixo de um sol abrasador, sobretudo na zona de Póvoa de Varzim, onde passámos por longos passadiços de madeira sobre a areia da praia. Contudo, na véspera, as previsões do tempo indicavam tempo nublado e fresco, o que me fez equipar com um jersey de manga comprida e, portanto, me ter arrependido arduamente dessa decisão.

De forma a cumprir com os requisitos para a certidão do peregrino, houve a necessidade de parar em diversos locais, sobretudo religiosos, para obter os carimbos que atestam o progresso da nossa jornada. O mau tempo acabou por chegar mais tarde, e só depois do jantar, com chuva abundante e acompanhada de violentas trovoadas, o que nos fez apressar o passo para o alojamento. Passava das 23 horas quando pudemos finalmente descansar.

No dia seguinte, a alvorada deu-se às 7h30 da manhã, com o tempo nublado e chuva. O destino era Pontevedra, que ficava a 115 km, com a promessa de muitas horas de pedal pela frente. Após cerca de 20 km por um caminho sinuoso, chegávamos a Vila Praia de Âncora, onde uma visita à igreja nos permitiu conhecer os andores que estavam preparados para a procissão em Honra de Nossa Senhora da Bonança. A chegada a Valença, para almoçar, deu-se por volta das 14 horas. Já estávamos atrasados e o facto de ser mais uma hora em Espanha, também não ajudava. A subida de Mós ficava para trás e deparávamo-nos com o monumento às mulheres maltratadas. Seguia-se Redondela e Ponte Sampaio antes de finalmente chegarmos a Pontevedra, o que aconteceu pelas 21 horas locais.

No terceiro e último dia, o caminho prometia ser mais curto, com cerca de 80 km, e também o mais agradável. Não sei se pela proximidade a Compostela ou se por ser domingo, a quantidade de peregrinos era de facto elevada. Pelo caminho tivemos ainda oportunidade de visitar as fervenzas do Barosa, Caldas de Reis e Padrón, onde, segundo a lenda, depois da morte de Santiago Maior, foram transportados os restos mortais e depois depositados num local remoto, onde hoje se ergue a catedral.

A promessa de chegada à Catedral de Santiago de Compostela deu-se por volta das 15 horas. Almoço seguido de um longo caminho de regresso a casa, mas com o desejo de um dia regressar. Votos de um bom caminho para todos.

Publicado em 06/10/2023