Desporto

"Oh Meu Deus 2022": 100 Milhas ou o que era para ser!

Clube fez-se representar por Helder Baptista e Pedro Raposo no Ultra Trail da Serra da Estrela

Relato de Helder Baptista

"Crónica de uma desistência anunciada"... sim, anunciada pelo IPMA uns dias antes da aproximação de um tempo muito quente!

Esta crónica não é para enaltecer os 94 super atletas que partiram às 16 horas de Seia com 37º graus de temperatura para percorrer as 100 milhas do "Oh Meu Deus" (OMD), mas também não é para dar conhecimento que a temperatura na serra desceu do dia para a noite mais de 15º graus para uns "mínimos" 19º graus, nem tão pouco para enaltecer os 28 super atletas que terminaram as 100 milhas contra um inferno de calor que levou à desistência de aproximadamente 50% dos atletas ainda antes de concluídas 24 horas de prova, isto já para não falar dos "5 Viriatos" que tiveram a capacidade de concluir os 200 km dentro do tempo regulamentar.

É tão somente para dar a conhecer o nosso breve relato (Helder Baptista e Pedro Raposo), que tal como os restantes, partimos e íamos preparados para terminar a prova, levávamos tudo a contar para partir também para os últimos 40 km, mas não o conseguimos fazer.

Logo que partimos enfrentámos os 27 km mais duros que me lembro de alguma vez ter feito, muito por causa dos 37º graus de temperatura e dos 1.442 metros de desnível positivo. Nunca falei durante a etapa (o que em mim é estranho), não me doía nada, nem tão pouco estava mal disposto, mas o desconforto era tal e geral que só me apetecia mandar para o chão. Cerca de 5 horas depois estávamos em Sazes, com a etapa terminada e todos os atletas desgastados.

Íamos sair para a primeira etapa noturna e vinha aí a esperança que (como sempre acontece na serra) a temperatura caísse a pique, mas não baixou dos 19º graus e andou muito pelos 20º/25º. 17 horas depois estamos a chegar a Sobral de São Miguel com 82 km feitos, com muitas "estórias" para contar e amizades feitas, dentro do tempo para cumprir o nosso objetivo, mas àquela hora da manhã a temperatura já rondava os 30º graus.

Dali só partiram 52 atletas (lembro-me dos 94 à partida). Nós os dois fomos dos que ficámos ali pelo caminho. Se temos pena de não ter terminado? Muita! Os percursos e paisagens da serra são belíssimos, ainda para mais seria a primeira vez do Raposo a subir à Torre e descer a Garganta de Loriga. Se os outros terminaram, nós não poderíamos ter terminado? Sim! Mas nós só corremos por prazer, para nos divertirmos ao máximo, para gozar tudo aquilo que temos direito e ali já não havia diversão alguma. Já era um tormento.

Muitas das vezes desistir não é um sinal de fraqueza, mas sim um gesto de humildade e inteligência! E nós, sem qualquer queixa ou mazela, decidimos acabar ali o percurso, e somente por causa da temperatura.

Mais uma vez agradecemos ao Clube Millennium bcp e ao Pedro Cordas por nos terem ajudado com os meios necessários para estarmos à partida desta aventura.

Fotos: Cortesia da Organização da prova e do fotógrafo Rubén Fueyo.

Publicado em 21/06/2022