Desporto

Full Ironman Vitoria-Gasteiz no País Basco

Convidamos a ler o relato do nosso Associado e Triatleta Nuno Nobre

Dia 30 de setembro de 2018, Half Iron Cascais, um triatlo que deixou excelentes recordações e que me fez subir alguns patamares nesta modalidade porque pela 1.ª vez fiz uma preparação mais de acordo com a condição de triatleta, refletindo-se na minha prestação e só por um "pedacinho" não consegui fazer Sub5 terminando com 5:05:43. O estar por dentro de uma prova Ironman foi também um momento de grande satisfação porque ao longo do evento estamos imbuídos daquele espírito, que puxa e nos motiva a dar o melhor de nós.

Com o terminar desta prova ficou dentro de mim a vontade de em vez de fazer um Half Ironman (1.9 km a nadar, 90 km de ciclismo e 21.1 km a correr) porque não elevar a fasquia e fazer um Full Ironman (3.8k a nadar, 180k de ciclismo e 42.2k a correr), pois até 30 de dezembro de 2018 já tinha feito 6 triatlos de meia distância, 4 meias maratonas e muitas provas de 10 km, a bicicleta com várias participações em Granfondos, sendo totalista no Granfondo da Serra da Estrela.

Portanto já tinha alguma bagagem e foi com uma grande vontade de superação que me inscrevi no Full IronMan Vitoria-Gasteiz, num país diferente (Espanha), com percursos desconhecidos, o que torna o desafio ainda maior.

Foram 6 meses de preparação, de janeiro a junho de 2019, onde no total fiz entre Natação / Ciclismo / Corrida, 312,5 horas e 6.609 km de treino. Fui também introduzindo algumas provas para saber em que estado físico me encontrava e para motivar e elevar os níveis físicos que envio quadro em anexo.

14 de julho de 2019, depois de tantas horas dedicadas à causa, eis que chega o momento de darmos tudo. O ambiente na cidade de Vitoria-Gasteiz está ao rubro; por certo uma cidade fantástica com excelente pessoas que vivem e vibram o triatlo como poucas. Já me tinham avisado que o apoio não ia faltar mas como aquele que vivi e senti não irei esquecer nunca. Há atletas por todo o lado, de todas as nacionalidade; só portugueses eramos 84, um grupo enorme de "Tugas".

Este triatlo tem a particularidade de a natação ser no lago Landa, que fica a 15 km da cidade e a Transição 2 (T2) é já dentro da cidade. A corrida decorre dentro da cidade por várias ruas e parques; de realçar que o percurso de corrida é totalmente plano e com muitos sectores à sombra.

5:45, hora de apanhar o autocarro no centro da cidade para nos levar ao lago Landa onde seria feita a natação; estes autocarros são gratuitos e disponibilizados pela organização para os atletas e acompanhantes. Chegado ao lago, tempo de ir para a T1 ultimar os derradeiros preparativos, tirar o plástico protetor e colocar a hidratação na bike, vestir o neopreno (a água estava a 21 graus) e seguir para a box de partida de 1:20.

Tudo a postos para este grande desafio onde primeiro saem os "Pros"... a adrenalina sobe, esperamos pela nossa vez e aí vou eu a tentar deslizar na água. Como era em lago tínhamos a navegação mais facilitada e o trajeto também estava marcado com muitas boias. O objetivo era fazer em 1:20 e sair da água com boa capacidade para a bike e assim foi, fiz em 1:26:41, sem me sentir cansado. Tempo de correr até a tenda e pegar na bike. T1 concluída em 1:31 o que considero rápido tendo em consideração que ainda tínhamos de correr uma boa distância.

Bike, 180 km, tempo de repor líquidos e impor um ritmo que não prejudicasse as pernas. Segundo a organização não iria estar vento mas infelizmente não se veio a verificar e estava um dia com muito vento; a sorte é que em grande parte do circuito o vento era lateral. Foram duas voltas grandes de 68 km e uma volta pequena, um percurso perfeito para ir grande parte do tempo com as mãos nos extensores e sem zonas de perigosidade maior; isto claro tínhamos de estar sempre atentos e não facilitar nada.

Procurei fazer uma alimentação e hidratação dentro do planeado e no fim fiz o sector da bike em 5:18:13 com média de 34 km/h. Adorei fazer os últimos km dentro da cidade em direção à T2. Chegado à linha do desmonta foram sensivelmente 500 metros a correr por uma avenida cheia de gente de um lado e do outro, que nos estendia a mão para nos cumprimentar e dar incentivo e que eu retribuía esticando o meu braço e batendo nas mãos que iam surgindo. Por certo a forma de incentivo dos Bascos é "Aupa" e "Animo"; muitas vezes eu ouvi estas palavras que tão bem souberam.

Corrida, 42,2 km, a transição na T2 foi em 6:17. Tempo para recuperar energias e repor líquidos, mas ainda andei um pouco baralhado para encontrar o saco... Fiz-me à corrida com "ganas", "ânimo" e tudo o mais estava satisfeito com a minha prestação até ali, uma natação não muito rápida mas confortável, uma bicicleta a controlar ritmos e alimentação. Era altura do tudo ou nada. Comecei a correr pelas ruas de Vitoria, o público cada vez puxava mais por nós e imbuído nesse ambiente comecei a procurar ritmos e estes lá apareceram. O objetivo era um ritmo de 5:00 minutos/km.

Olhava para o relógio e aparecia 5:15, 5:20; pois bem, pensei eu, não vou forçar vou antes fazer o que o corpo deixa... a corrida eram 4 voltas de 10k pela cidade e por cada volta passávamos na zona da meta que estava repleta de gente. O barulho era ensurdecedor, fiz a 1.ª e a 2.ª volta dentro do ritmo confortável o que deu 21k e quando parti para a 3.ª volta o corpo começou a quebrar; era tempo de repor energias com uma frutose, mas infelizmente esta não me caiu bem no estômago e tive um momento de forte indisposição que me fez parar um pouco e depois muito lentamente lá me comecei a sentir melhor, mas daí para a frente a minha disponibilidade do início da corrida jamais foi a mesma, mesmo a água que tentava ingerir me provocava indisposição.

Foi um período difícil, mas também quando me meti nesta aventura sabia que não ia ser só superação com diversão, que iria existir também uma altura em que seria superação com sofrimento, por isso fiz-me à vida sempre com o pensamento na meta e em ouvir o speaker "You Are An Ironman" e esse momento chegou passadas 11h31m18s, altura de pegar na bandeira de Portugal uns metros antes, dada pela minha esposa que me acompanhou nesta aventura e que tanto me incentivou. Um grande obrigado a ela e percorrer a passadeira vermelha até ao pórtico com a bandeira bem alta para mostrar a raça e o querer Lusitano.

Um grande obrigado a todos os colegas do Clube que ao longo desta jornada me foram dando palavras de incentivo e alguns conselhos, pois uma boa parte destes colegas já têm experiência destas aventuras e nunca é demais ouvir de quem já passou por estes momentos de superação.

Publicado em 29/07/2019